segunda-feira, 23 de julho de 2007

Cena 4, Take 12

Cheguei ontem de viagem. Fui à Cidade Maravilhosa durante os Jogos Pan-Americanos. A ironia é que nem me apresentei, em toda minha palidez – ou, como eu gosto de chamar, cor de escritório – ao oceano, muito menos vi jogo algum acontecer. Para não dizer que não desfrutei de nenhuma das belezas de uma cidade litorânea, pisei de tênis na areia e coloquei mais ou menos 3 dedos da mão direita no mar, por cerca de 4 segundos. Emocionante.

Passando aos outros aspectos da viagem, ela foi um pouco diferente do que eu esperava, mas tão boa quanto imaginava. Tudo começou no aeroporto, quando a companhia aérea, para não decepcionar, fez a gentileza de nos dar tempo de sobra para tomar um bom café da manhã e torturar nossa carona, que tinha acordado às 5 da madrugada para nos levar e, em um lapso utópico inexplicável, planejava voltar para a cama antes de ir trabalhar. É comovente o som de sonhos sendo calmamente diluídos no ar frio de algumas horas no aeroporto. Já no avião, revisitamos o infalível prazer de descobrir novas fobias em amigos: o Ricardo tem medo de voar. Talvez seja um medo patológico, ou talvez os freqüentes desastres de avião que vêm ocorrendo no nosso país nos últimos meses tenham ajudado. Fica a dúvida.

Procedimentos em caso de emergência, cinto de segurança afivelado em todos os momentos, bandeja para cima, cadeira na posição vertical. Claro. Adoro pensar que se o avião cair vamos nos salvar porque estamos presos à cadeira. Ufa! Pobre coitado do senhor da poltrona 14F, morreu porque a bandeja estava na horizontal, nada a ver com o impacto de uma queda de 10 mil metros a 600.000 km/h seguida pela explosão. Bandeja assassina. E esses bancos flutuantes me deixam muito mais calma. No caso de “pouso” na água, é só nos agarrarmos à poltrona. Ela também tem suprimento interno de comida para 7 dias, cobertores impermeáveis e lança raios ultra-sônicos que espantam tubarões. Praticamente um produto Tabajara. Mas não deixe que isso os assuste, aviões são o meio de transporte mais seguro, comparativamente falando.

Finalmente, a famosa cidade dos grandes poetas e praias. No caminho de uma hora e meia para o alojamento, o coordenador do lugar nos deu uma descrição bastante agradável sobre o local. Alguém já ouviu falar sobre o Complexo do Alemão?
É uma sigla para Como Ouvir Mais Pipocos Longínquos E Xingar O Demente Operante Acusado de Levá-lo, Enquanto Meticulosamente Assustava o Observador. Também pode significar “Como morrer por bala perdida” no idioma local, língua romana também conhecida como “Sejamus Realisticus”. Foi naquela direção que fomos. Mas não se assuste, não ficamos lá no meio do morro, ficamos ao redor, onde os tiros pareciam fogos de artifício.

A casa onde passamos os primeiros dias era espaçosa, apesar de faltarem algumas fechaduras. A falta de lâmpadas, chuveiros elétricos e água não me incomodava, só queria que houvesse portas e fechaduras. Se um dia chegarem a conhecer o Patrick, meu mais novo pretendente a marido, vão entender. Em uma de nossas noites lá, a figura desceu no meio da noite, enquanto ainda assistíamos a um filme, e entrou no banheiro. O que veio a seguir foi o inconfundível barulho de pequena corrente de água quente caindo dentro do poço de louça branca, seguido do barulho de uma tampa se fechando bruscamente. O único fato anormal, é que o segundo barulho veio bem antes de o primeiro terminar. E a pequena corrente continuou, só que dessa vez caía em lugares diferentes. Nesse momento fiz o que qualquer boa menina faria: Agradeci muito a Deus por ter tomado banho 20 minutos antes, e fui dormir. Os meninos passaram boas horas desinfetando o chão naquela noite.

Continua…

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Cena 3, Take 3,45656

Nome completo: Talita Guimarães Sales.

Idade: varia.

Aniversário: Todo ano

Formação: No útero.

Profissão: varia.

Filiação: Meus pais.

Irmãs: duas.

Irmãos: em Cristo.

Cunhados: varia.

Status: não.

Signo: Devo ter nascido no encontro da segunda lua com o quarto anel de saturno. Isso explicaria muita coisa.

Religião: Filha de Deus (escolhida, destinada e com livre-arbítrio).

Deus: Presença constante. Senhor.

Amigos: Especiais. Excepcionais. Essenciais.

Vícios: Chocolate. Seriados Americanos. Discípuluz. Filmes. Caneta e papel (vício não-degustativo).

Pedidos ao gênio da lâmpada:

- Um sistema infalível de comunicação mundial que possibilite que todas as pessoas do planeta ouçam o evangelho simultaneamente, em sua própria língua.

- Um chocolate que elimine as calorias do corpo.

Cicatriz: 4.

Dentes: 28.

Unhas: fracas.

Medo: de Gremlins.

Rugas: Nos pés.

Livro: que tenham palavras.

Crônicas: Veríssimo.

Poemas: Vinícius. Clarice.

Defeito: Impaciência.

Qualidade: Boa pergunta.

Arrependimento: Poucos, mas importantes.

Hoje: Melhor momento.

Amanhã: Melhor possibilidade.

Ontem: Melhor lembrança.

"De ontem em diante serei o que sou no instante agora"

terça-feira, 10 de julho de 2007

Cena 2, take 0,7345

Boa noite, leitores,

Me dei conta agora há pouco que, enquanto as crianças americanas problemáticas têm amigos imaginários, eu tenho leitores imaginários...

Como sabem, criei este blog na semana passada para dar ordem à minha necessidade de escrever. Troquei os bloquinhos de rascunho, a palma da minha mão esquerda e a agenda do Bruno, onde minha obsessão por deslizar a caneta por um pedaço de papel (ou pele) me levava a escrever qualquer coisa, de receitas a uma paráfrase do Hino Nacional, por um caderninho no mundo virtual com leitores imaginários. Só que hoje me bateu a grande dúvida existencial de um blog: sobre o quê escrever? Provavelmente sobre a fascinante ordinariedade do cotidiano, sobre as cenas comuns do dia-a-dia que, de tão familiares, nos caem como uma bigorna do óbvio sobre a cabeça. Mas para que minhas observações sobre a bigorna sejam no mínimo interessantes para vocês, é preciso que me conheçam. Por isso, vou gastar os próximos espaços me apresentando a quem se dispor a ler meus textos para que, assim, sejam capazes de ler também a mim.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Cena 1, take 1

No início, a Terra era sem forma e vazia... E aí Deus criou Adão, pai de Abel, pai de alguém, que tempos depois foi pai de Abraão, pai de Isaque, pai de Jacó, pai de José, pai de mais alguém, que não conseguiu créditos na Bíblia, [...milhares de anos...] pai de Ezequias, não o rei, o pastor, pai de Talita. Essa é a minha história. O resto vocês já sabem, porque o único motivo que levaria alguém a ler este aspirante a caderninho de idéias seria uma amizade muito perseverante ou ligações inegáveis de sangue. De volta ao assunto, já que você já adentrou o estabelecimento (mesmo se por engano), melhor dizer a que vim.

Decidi voltar a escrever. Não porque mereço ser ouvida, nem porque tenho grandes percepções sobre a vida, a morte e a intolerância mundial que se negam a permanecer caladas. Escrevo porque preciso, porque de alguma forma a vida faz mais sentido assim, com a possibilidade de testemunhas. Há algo mágico em traduzir pensamentos e sentimentos em palavras. Coloca sua cabeça em ordem e compartilha com o desconhecido o peso de tanta informação. A verdade é que eu não espero ser lida. Basta a palavra ser lançada, se ela vai correr ao encontro de alguém eu não sei. Meu mundo interior não pára, e as idéias estão fazendo fila para sair, com ou sem destino (topariam até ir em excursão em meio à Operação Padrão e às vésperas da greve da Infraero).

Ah, e já vou avisando que tenho um problema com conclusões. Conclusões podem justificar a existência do texto, salvando o autor, ou afogá-lo de vez. Diante de tamanha responsabilidade, só finalizo um escrito quando encontro o final perfeito. Antes que você pense que este que você lê já foi enterrado sem conhecer Jesus, aliviei a pressão dele, já que é basicamente uma festa de boas vindas aos meus leitores imaginários. E festas não terminam no auge, diminui-se o ritmo e o anfitrião despede os convidados aos poucos. Sendo assim, caros companheiros, bem-vindos, tirem os sapatos (não as meias) e sintam-se em casa.