terça-feira, 30 de outubro de 2007

Cena 11 - Feliz aniversário, Lê

Eventos importantes da última semana: Aniversário da Lê. Descobri que tenho um(a) sobrinho(a) postiço(a) vindo por aí. Junta-se a isso o fato de que o grande Veríssimo (o que ainda está vivo) passou pela cidade para exibir mais uma de suas paixões – é quase injusto. Devia ser proibido alguém saber escrever e musicar. Isso é monopólio de talentos, a grande prova de que a categorização capitalista já superou as classes socioeconômicas; agora há divisão entre gênios, classe que tenta (músicos amadores, blogueiros) e completamente desprovidos de talento –, a chegada da tão esperada (e internacionalmente conhecida na Igreja de Cristo da Asa Sul) Conferência Missionária, a formatura da Priscila e minha entrada no terreno do desemprego, pode-se dizer que foi uma semana especial. Sendo assim, merece uma postagem especial.

Sinto que o atual saldo da minha conta bancária (algo em torno de R$ 0,29) não permite que eu dê às minhas amigas e à nova pessoinha que vem chegando por aí um pedacinho da minha consideração em forma de algo comprado pelos shoppings da vida. Mas o meu coração silenciosamente as presenteia com dezenas de desejos sinceros, os quais espera que sejam ouvidos por Deus, e assim, cheguem até elas em forma de bênçãos.

Segue a lista (graças a Deus desejos não são tão limitados quanto meu agora inexistente salário. Portanto, eles se estendem a todos). Parece mensagem encaminhada, mas são pensados e genuínos.

Desejo...

Que os seus vícios se limitem a chocolate e filmes água-com-açúcar;
Que entenda que os fortes são isolamento, não proteção, e nunca desista de construir seus castelos;
Que enxergue as pessoas além de suas atitudes, e que seja capaz de perdoar mesmo sem entender seus motivos;
Que saiba que o melhor exercício de convivência é pedir perdão. A razão jamais se acomoda em um “lado” só.
Que escolha ser alegre até quando não tem motivo especial. Alegria não tem muito a ver com estar tudo bem.
Que prefira contagiar e influenciar ao invés de ser influenciado. E que use isso para os poderes do bem.
Que saiba ouvir (bons) conselhos, nem que seja para ter a quem culpar se não der certo. Pelo menos você vai saber que tentou.
Que tenha pureza de coração suficiente para acreditar sempre que alguém lhe disser que vai ficar tudo bem.
Que possa chorar quando tiver vontade, mas que seja sempre sabendo que o Deus que te ama além da razão e que tem todo o poder para virar o mundo do avesso por você está vendo cada lágrima e ouvindo cada motivo. Nunca tente chorar longe da presença dEle. É aí que mora o desespero.
Que consiga aprender a depender completamente dEle antes que Ele tenha de te ensinar que é a única opção para uma vida plena.
Que cada minuto de sua vida tenha propósito. Que a ocasional sensação de vazio se deva apenas ao fato de ter esquecido de almoçar.
Que saiba expressar o que sente e o que quer. Que saiba exigir o que lhe é direito. Mas, acima e tudo, que saiba se calar quando houver essa opção.
Que conheça a beleza de não “sair por cima”, nem falar tudo o que quer. Melhor manter seus créditos nos princípios do Reino do que parecer vitorioso nos valores passageiros do homem.
Que dê bom dia a todas as pessoas por quem passar, mesmo que ele pareça nublado. Nada atrai mais sorrisos quanto distribuí-los.
Que descubra que não é preciso abrir mão do bom senso para se divertir.
Que se divirta, seja contando piada enquanto come brigadeiro, brincando em um pula-pula na chuva, lendo um livro estranho ou dançando com quem gosta.
Que nunca fale de alguém por maldade, especialmente em sua ausência. Isso é importante.
Que seja sempre o melhor que você pode ser. Não há nada mais fatal para a serenidade de espírito quanto acreditar que você não tem como esperar dias melhores porque nem os merece.
Que não espere merecer nada. As coisas mais importantes que você tem vieram sem que você tivesse como merecê-las: A vida. A graça e a misericórdia do Pai. O presente da Salvação.
Que encontre a paz do Senhor. Ela é bem parecida com o que o mundo chama de “a tão perseguida felicidade”. Não elimina os problemas. Não livra das dores. Mas mantém esperança suficiente para te fazer sorrir sempre.
Que tenha amigos. Muitos, com quem se divertir. Alguns, que possa chamar de irmãos. E que você possa contar com estes, mesmo que às vezes eles te decepcionem.
Que nunca perca a ingenuidade que permite que possa confiar de novo em quem te frustra um dia.
Que tenha um blog, um diário, um caderninho de anotações, um violão, qualquer coisa onde possa derramar um pouco de você, compartilhar sua essência com o mundo.
Que nunca seja vítima de seus problemas.
Que veja os momentos de provações como oportunidades de mostrar ao Criador que O ama por quem Ele é, não apenas pelo que Ele faz por você.
Que ore sempre. Para agradecer. Para desabafar. Para pedir. Para chorar. Para louvar. Quando não tiver nada a dizer, curve-se e glorifique. Encontre sua alegria em agradar o coração de quem entregou tudo o que tinha por você.
Que tenha o seu coração e mente firmes em Deus, e seus olhos na promessa do Reino. Esse é o segredo que o mundo tanto busca.
E que conte comigo. Sempre. Perdoe as minhas falhas e ausências. Espero estar sempre aqui para você, até onde o Senhor permitir. Seja para ouvir, compartilhar, falar alto, acompanhar, comer brigadeiro, sair para almoçar, encorajar, pagar mico ou ficar em silêncio.

Amém! Feliz aniversário de novo, amiga Lê! Parabéns pela conquista, Pri! E bem-vindo ao estranho Planeta dos Homens, sobrinho(a)!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Cena 10 - Sobre vícios

Dias atrás passei por um momento metalinguístico que só hoje veio resultar em texto. Resolvi alimentar meu vício, também conhecido como seriado médico com doutores que fazem valer a pena ficar doente, e o assunto do dia era, voilà: vícios. De acordo com o Titaurélio, vício é qualquer coisa que entra em sua vida alcançando posição de hábito, e, mais à frente, desbanca alguém com escritório maior e conquista o cargo de obsessão. Pode ser uma droga, um remédio, uma comida, uma atividade, ou até mesmo um relacionamento. O que liga todos e os coloca no mesmo saco é a busca pela repetição de uma sensação. Quem de nós não tem algo que, se fosse possível, gostaríamos que ocupasse quase todo o nosso tempo, que fizesse parte de quase tudo na nossa vida? Esse quase só tem o tamanho suficiente para evitar o enfado.

O problema dos vícios é que eles já vêm com a obrigação prática de destruir o bom senso. Além disso, suas doses invariavelmente deixam de ser suficientes, e esse querer sempre mais se torna um perigo fatal para a capacidade decisória do ser humano. Isso é bastante claro nos vícios mais óbvios, como substancias ilícitas ou mesmo lícitas (mas que, de acordo com Paulo, não convêm). Entretanto, já não é tão simples de enxergar naqueles mais sutis, como trabalho, estudo, leitura, malhação, ou um relacionamento.

Relacionamentos. Pessoas também viciam. Em minha brevíssima história de vida encontrei várias que me acrescentaram muito, mas também algumas que me levaram mais do que deveriam. Quantas pessoas não ficam presas a uma amizade ou namoro que aos poucos desgastam profundamente sua auto-estima e amor próprio por causa da dependência. Aquilo que mais queremos começa a machucar, e nenhuma das opções que se apresentam parece boa o suficiente. Não é fácil querer se livrar de um vício, ele existe por um motivo. Mas uma hora a constante busca por satisfação e a agonia da abstinência se tornam mais do que se pode suportar.

Em relacionamentos, a abstinência também se apresenta e bate continência na ausência, seja ela a falta do outro ou a falta de reciprocidade. E é aqui que a questão fica mais nublada. O fato de você não receber na proporção em que se doa machuca, mas perder voluntariamente até o que se tem pode parecer insuportável. O que tenho vivido, ouvido e visto ao meu redor, é que, longe da teoria, abrir mão daquilo que faz mal às vezes dói mais ainda. E decidir entre uma dor e outra exige uma força quase desumana.

Como podem perceber, ainda não cheguei a conclusões brilhantes sobre o assunto que proponho. Na verdade, em mim só restam dúvidas, e é por isso que trago o problema para a mesa.
- Só para constar, se o seu vício envolve alguma substancia ilícita (ou a lícita que não convém), não precisa perguntar, ele não tem lado nem vagamente positivo, só adormece os seus neurônios o suficiente para você não perceber isso. Portanto, livre-se dele o quanto antes. Coloque-o no próximo trem para o passado e saia correndo. Os outros estão abertos a discussão -

E enquanto isso vou voltar para os meus vícios quase inofensivos. Tem mais um episódio de Grey's Anatomy para ser assistido por aí e uma barra de chocolate com o meu nome em cima. E se quiserem compartilhar, participem da minha recém-iniciada reunião de VCAA - Viciados em Coisas Aleatórias Anônimos. Até lá!

PS: Não adianta retrucar o "brevíssima", o blog é meu.

sábado, 13 de outubro de 2007

Nasceu!

Segundo a Márcia minhas postagens estão parecendo um parto, então fico feliz em informar que após 10 dias de técnicas respiratórias e contrações, meu mais novo aglomerado de palavras veio ao mundo. Mas só vou publicá-lo mais tarde, ele tá na incubadora por motivos de saúde. Enquanto isso, gostaria que vocês dessem uma nova chance à Cena 9. Alterei o último parágrafo para melhorar a compreensão. Até daqui a pouco!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Gente, antes que alguém distenda um músculo tentando compreender a postagem abaixo, devo confessar que ela não significa coisa alguma. Eu só estava com vontade de gritar, mas precisava criar um clima. É a vida. Prometo uma postagem razoavelmente decente nos próximos dias.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Cena 9, Take x

Faz tempo que a lua se despediu do pedaço de céu que nos é revelado por aqui. Ainda assim, o sol parece que só se acendeu pela metade, deixando a sensação nostálgica de um dia nublado inundar o quarto onde dorme nossa personagem. O despertador já toca pela quinta vez, em uma demonstração obviamente desumana de perseverança. Nada parece suficientemente importante para tirar nossa personagem do conforto do mundo do sono. Ali onde nada dói, nada permanece, nada incapacita, e onde sempre que algo desagradável acontece, é esquecido com a mesma velocidade com que se recobra a consciência. Não fosse o tal bom senso, o despertador seria silenciado de forma mais, digamos, definitiva.

Mas o tal do bom senso tem bons argumentos e vence a batalha no grito. Nossa personagem se levanta, olha ao redor, enxerga a cama que abandonou com preguiça, e segue para o banheiro. Nada de banho, se ao menos o bom senso tivesse vencido ainda no segundo toque do despertador... Procedimentos emergenciais de higienização completados, chegou a vez de explorar o guarda-roupa. Nenhuma novidade, as mesmas roupas que ontem pareciam uma terra de possibilidades, hoje parecem se limitar a uma ou duas que só alcançam adjetivos de adequação. Muito tempo perdido, mas era inevitável. O relógio já acusa o atraso, enquanto nossa ainda desconhecida improvisa uma maquiagem que perdoe a roupa. Brincos, sapatos, nada parece realmente combinar, mas o constante movimento do mundo também não parece combinar com a desejo de paralisação em sua mente, então paciência.

Café da manhã é supérfluo, um luxo que se perde na visão do relógio. Chaves, bolsa, carro. O trânsito é uma das provas de como o mundo é injusto. Todas essas pessoas dirigindo seus carros e suas vidas sem respeitar o fato de que hoje todas deviam desaparecer. Aparentemente ninguém recebeu a circular com a notícia de que hoje é dia da nossa personagem poder se livrar da camisa de força da sanidade. Nossa amiga precisa trabalhar, mas é melhor fazer uma parada antes, pelo bem de todo ser animado ou inanimado que cruzar seu caminho e mente neste dia de chuva. Ela estaciona em um prédio alto e aparentemente lotado, onde ocorrem todo tipo de transações em todos os segundos do dia. Lá, corre para as escadas, sem arriscar o elevador sempre ocupado. Três ou quatro lances acima, vê ao longe a porta que busca, uma sem placas suntuosas nem cores chamativas. São só mais alguns passos e o caminho pelo corredor encarpetado já contradiz a confusão do universo exterior.

A porta. A maçaneta trabalhada é alcançada com um suspiro. Lá dentro só se ouve o barulho de vozes individuais envoltas em silêncio compreensivo. Nossa paciente abre a porta e vê os rostos familiares de sua vizinha (em mais endereços do que o normal), um petista universitário, uma noiva e uma missionária disfarçada de jornalista, todos com razões óbvias para estarem tão cedo na sessão de terapia. Olha para dentro, cumprimenta, toma fôlego, e, finalmente, olhando para o fundo da sala: AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHH!

Pronto. Era só isso. Publicar postagem. Graças a Deus pela terapia em grupo. Agora nossa personagem pode ir trabalhar em paz.