sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Parênteses 2: Momento desabafo

Sempre gostei de assistir a filmes e afins com grandes personagens femininos, que não deixavam nada abalar seu charme. Estavam sempre por cima, até quando colocadas em uma situação sem saída. Sempre encantadoras, e com as atitudes mais certeiras. Eu assistia a tudo como quem vive uma vida paralela, e sonhava. Cada vez que davam uma demonstração de como nasceram para ser protagonistas, eu sentia que podia ser como uma delas. Então o que fariam agora, hoje, como personagem principal da minha vida real?

Se vivo uma trama que não é a ideal, mas digna de qualquer novela, me pergunto o que me faria ser a protagonista, não apenas a coadjuvante que só serviu para movimentar a história. Me recuso a vagar pelo enredo e sair como quem abriu caminho e deixou o palco no segundo ato. Não, deve haver alguma coisa. Talvez uma vingança bem planejada. Talvez uma virada na trama ou palavras de efeito. Queria a autoconfiança que brota desses personagens.

Mas a verdade é um pouco diferente. A verdade é que estou em casa, com o coração batendo rápido demais e a garganta apertada. Há uma certa angústia que drena minhas forças e nem me dá chance de sair de salto alto de um capítulo que já revelou seu fim. Só me resta o velho caminho dos que sentem mais do que gostariam: Chorar. Não é glamoroso, nem revela grandeza. Mas traz um certo conforto em saber que toda essa tristeza tem um canal de saída. Dá esperança de que um dia leve consigo todos os seus pertences e deixe o recinto para sempre. E enquanto isso não acontece, sempre vale fazer brigadeiro e assistir às heroínas que conseguem o que eu não consigo. Talvez elas me ensinem o que se faz depois do fim da cena.

PS: Feio e nada educativo admitir, mas sinto um pouco de saudades do forte.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Cena 6, Take -1

Resolvi fazer algo diferente desta vez. Estava limpando meus arquivos (essa é a parte diferente) e encontrei um velho texto que escrevi em um momento de inspiração demagógica. Resolvi postá-lo aqui, não por falta de idéias atuais, pois, não se enganem, minha cabeça é um buraco negro absolutamente lotado de pensamentos, mas porque o tema do texto é expecialmente pertinente ao que eu tento viver hoje. E porque, talvez, a proposta seja útil a vocês. Espero que gostem, mantendo em mente, é claro, que foi escrito há muito muito tempo, quando eu não era considerada gente, apenas adolescente.

Aí vai:

"Um dia desses recebi por e-mail uma mensagem que dizia "Agradeço às pessoas que me atiraram pedras, porque foi com elas que construí um castelo". Fiquei cogitando sobre o sentido geral da frase, que seria o de tirar proveito das más situações da vida. Logo tentei pensar no que eu estava fazendo com as pedras que me foram atiradas. Eu construí alguma coisa, sei que não as ignorei. Mas não foi isso.

Algumas pessoas constroem castelos, outras constroem escadas. Eu construí um forte. Empilhei pedras ao invés de lançá-las fora ou dar-lhes alguma forma. E o forte tornou-se maior que eu, permitia-me apenas alguma visão por cima quando eu me punha na ponta dos pés, da qual eu me esquecia logo ao descer e encarar a parede outra vez.

Esse muro foi construído com palavras duras e lembranças enrijecidas, e rebocado com uma mistura de mágoas, lágrimas e insanidade. Pedra e cimento da mente. Não, do coração. O forte parece eficiente, ele protege contra os intrusos, velhos ou novos. Mas quem não sabe que as melhores e as piores coisas às vezes caminham na mesma estrada? Podem até não chegar juntas, mas você as encontra nas mesmas paradas. A velha história da rosas e seus espinhos e blá blá blá.

Dessa forma, ao tentar impedir que pessoas, situações e sentimentos nos alcancem, não só estamos nos iludindo, pois cedo ou tarde algo vai ultrapassar a proteção do forte, como também estamos nos privando de novas surpresas, novas e belas emoções. Dessas que vale a pena viver mesmo que esteja implícito um certo risco. O amor, em todas as suas formas, a confiança, a convivência, são algumas das melhores coisas que uma pessoa pode alcançar na vida. Muitas vezes, mesmo que elas não os tragam consigo, são seguidos sorrateiramente por desilusões, tristezas e julgamentos. Estes, entretanto, são apenas visitantes nômades. Eles se vão.

Admiro a pessoa que escreveu aquela frase. Mas para nós que ainda não víamos utilidade para as pedras, eis aí então uma fórmula. Se sentir que estão te atirando pedras, não construa, jamais, um forte. Ele não é proteção, é apenas isolamento. E construí-lo significa a possibilidade de perder do melhor da vida. Ao contrário, dedique-se a construir um castelo, um bem grande e bonito. Um João, um Augusto. Você mesmo. Eu mesma. Se as pedras são metáforas, que o castelo seja poesia. Que seja feito de fé e rebocado com perdão. E quando ele estiver pronto, convide o amor para ficar, agora que você tem espaço. E convide também todos aqueles que te jogaram as pedras, para que eles entendam que mais decisiva do que a matéria-prima, é a possibilidade e a habilidade de moldá-la."

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Cena 5, Take 3

Para quem não sabe, depois de meses e meses de acúmulo monetário e economia que beirava a pão-duragem, peguei minha carta de transferência do CCPOV (Clube dos Completamente Dependentes dos Ônibus da Viplan) para o CCDPG (Clube dos Completamente Dependentes do Preço da Gasolina). É isso aí, motorizei-me. Presente de Deus.

Mas isso me inspirou a escrever sobre algo que queima no meu coração há muito tempo: a estranha cultura dos membros do CCPOV. Essa comunidade cujo principal temor depois do câncer e violência, é ver aquele enorme mercedez amarelo passando ao longe enquanto tenta alcançar a parada. Após anos de pesquisa infiltrada, eis o relatório:

A primeira coisa que se deve saber ao adentrar tal comunidade é que ônibus são tão imprevisíveis, em termos de horário, quanto o humor de uma mulher com TPM. E, nos dois casos, reclamações não são bem-vindas, muito menos levadas em consideração. Você tem duas opções: Chegar mais cedo e esperar; ou chegar em cima da hora, perder o ônibus e esperar o próximo da linha. Leque de alternativas bastante limitado.

A parada é quase um evento social. Alguns estranhos que se encontram diariamente no mesmo local, no mesmo horário. Ninguém pergunta nomes, mas todos sabem detalhes uns sobre os outros como onde moram, onde estudam, quantos filhos ou que consulta médica têm no dia. Praticamente uma reunião de AA. Sei, por exemplo, que a senhora que se sentava no segundo banco da parada a partir das 7:55 mora mesmo em Valparaízo, mas vem dormir na casa da filha, no guará, porque a menina descobriu que tem alguma doença semi-grave, apesar de o dr. Marcos ter-lhe dito que são apenas gases. Achei uma atitude nobre, eu é que não monitoraria uma pessoa com gases, não importa quanto amor estivesse envolvido.

A espera na parada é uma gangorra de emoções. Não recomendada a quem tem algum problema cardíaco. Cada veículo maior do que um carro popular que surge ao longe, levanta uma expectativa quase cruel. Será ele? Parece, é amarelo. Está vindo nesta direção, e eu acho que reconheço a lentidão do meu motorista. É ele, tem de ser, olha só aquele farol quebrado. E aí, quando ele chega, era só outro W3 Sul. Decepção. Tristeza. Desespero. Outro ônibus surgindo ao longe. Agora tem de ser ele.

Quando o ônibus certo finalmente chega, todas as esperanças se refazem. Problema resolvido, ninguém nem se lembra da agonia de momentos antes. Toda aquela legião de membros do CCPOV se reúne a beira da calçada, como se o ônibus fosse passar direto pelo meio-fio sem parar, e só entrará nele quem correr e saltar para dentro, mais ou menos como os caminhões de lixo. Na entrada, o sistema é “salve-se quem puder”. Aparentemente aquela é a porta da paz e tranqüilidade eternas (ao menos pelos próximos 40 minutos) e quem não brigar por ela nunca mais vai a lugar nenhum na vida. Regra da Viplan, quem entra por último fica eternamente proibido de pisar em qualquer veículo coletivo. Vale impedir a entrada dos coleguinhas com o braço, colocar o pé na frente, empurrar com sutileza, tudo menos morder e puxar os cabelos.

Uma vez dentro do ônibus, a sensação de dever cumprido e tranqüilidade é reinante. Isso se você tiver a sorte de morar perto de uma das primeiras paradas, o que se traduz em viajar sentado. Caso contrário, o percurso é apenas mais uma parte do martírio, no qual o passageiro tenta, ao mesmo tempo, não cair nas curvas, não derrubar suas coisas sobre os outros e encolher o traseiro significativamente, para permitir a passagem dos próximos desafortunados das últimas paradas.

Eu moro perto da quinta parada, sempre ia sentada. Evito os assentos duplos, pego o único assento solitário do ônibus. A vida social dentro de um coletivo amplifica milhares de vezes o terrível constrangimento do elevador. Não são 3 minutos, mas quase uma hora ao lado de alguém que você não conhece e não faz questão de conhecer. No meu caso, eu sempre ia com o Ipod no ouvido, o que fazia de qualquer conversa educada uma interrupção quase angustiante. Pause apertado, fones removidos mas sem se distanciarem muito dos ouvidos, cara de quem tá com pressa. Não funciona muito bem em senhoras acima de 60 anos.

Nao, eu era a dona do assento solitário. Lá eu escorregava no banco, colocava minhas 600 músicas preferidas para tocar, casaco estrategicamente posicionado entre minha cabeça e a janela, e dormia, porque a única coisa que me fazia levantar mais cedo para pegar ônibus era a promessa silenciosa de voltar a dormir assim que entrasse nele. Há algum tipo de sonífero naquelas cadeiras, não sei dormir em lugar nenhum que não tenha cara de cama, mas aquela cadeira dura, naquele ônibus em movimento nada sutil é especial.

O destino. Aqui os fins justificam os meios (de transporte). Ao final da jornada, a liberdade e o silêncio do ar livre apagam qualquer sentimento vagamente assassino criado na última hora. Nao se iludam, este não é o fim. A viagem de volta, na hora do rush, é muito mais divertida, mas ela fica para depois.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Cena 4, take 13 - A Viagem parte 2

Finalmente... O problema é que nesse meio tempo, entre a viagem e o parênteses, esqueci 80% daquela semana. Mas vamos lá. Em caso de faltar a lembrança, a imaginação está sempre pronta para tomar sua cadeira (e ela é abusada, do tipo que ainda cruza os pés sobre a mesa).

Depois de alguns dias na Penha Circular (ou, como gostamos carinhosamente de chamar, na Faixa de Gaza), pedimos para ser transferidos para o Leblon (também conhecido como Suíça). Deixamos para trás o Patrick, tristes pela perda da possibilidade de vivenciar as experiências a que ele nos expunha. Não sei como sobrevivemos sem a insistência dele em nos dar comida na boca, com as próprias mãos, as quais ele cuidadosamente passava por todos os cantos da casa, da rua, do chão, do banheiro e dele mesmo. Desenvolvemos boas habilidades de escape e fuga frenética.

Na Zona Sul, fomos acolhidos por pessoas absolutamente maravilhosas, cujos únicos defeitos evidentes eram a capacidade de falar por períodos mais longos do que o ouvido humano é capaz de ouvir, e a mórbida tendência de continuar atirando na língua portuguesa depois que a coitada já estava praticamente enterrada. A casa era menor e mais simples, mas também aconchegante. O Rio de Janeiro estava na janela, mas sem os famosos 40º. Estava mais para Rio 16º. Ou 11, a noite.

Conhecemos, convivemos, nos envolvemos nas vidas das pessoas que nos acolheram. Distribuímos abraços grátis pelas noites de Copacabana e descobrimos que tem muita gente carente neste mundo. Os que não eram carentes, achavam que nós éramos, então davam o abraço assim mesmo. Claro que, assim como o Frank, há sempre aquelas pessoas que não receberam amor suficiente dos pais e ficam azedas, o que resulta em uma criança de 12 anos gritando: " Vai dar abraço grátis na sua maezinha!". Outros comentários foram: "Eu sou judeu!" - acho que isso significa que judeus não se abraçam -; "Não dou abraço em marmanjo, só nela ali!"; e propostas: "Você distribui beijos grátis também?". Saíamos de lá com nossos níveis de serotonina prestes a causar uma overdose. Depois ainda íamos comer alguma variação da Bomba do Guará.

No sábado, nossa noite de folga, resolvemos ir ao teatro. Passamos algumas dezenas de minutos na parada, tentando pegar um ônibus para a Gávea, mas aparentemente os motoristas confundiam o nosso aceno com um adeus. Pelo menos uns 4 passaram direto. Resolvemos então que isso era um sinal para irmos para o Barra Shopping. Pegamos um ônibus superlotado, onde a protuberância traseira do Ricardo e das outras pessoas se bloqueavam mutuamente. Só eu pude sentar (umas das 27.904 vantagens de ser menina). Depois de cerca de 30 minutos de viagem, resolvi perguntar ao estranho sentado ao meu lado quanto tempo levaria para chegarmos à Barra. "Uma hora e meia", foi a resposta. Segundo meus cálculos, nesse caso chegaríamos bem a tempo da apresentação de domingo.

Quis saber então como saltar na Gávea. Nao sei se ele estava tentando se livrar de nós porque estávamos rindo enquanto ele tentava dormir, mas ele disse: "Desçam na próxima parada". Descemos. Na entrada da Rocinha. A verdade é que tivemos de pegar outro ônibus e atravessar um túnel para chegarmos ao Shopping da Gávea. Sem mágoas daquela criatura de Deus.

Havia 4 peças em cartaz no local. 4 Monólogos, na verdade. O primeiro que tentamos já havia começado. O segundo estava esgotado. Passamos direto pelo terceiro, e estacionamos no quarto. Nenhuma máquina de VISA a vista, alguém tem de correr para pegar dinheiro. Com isso nós descobrimos que cariocas (sem ofensa) são tão bons em dar direções como os nossos vizinhos (sem maiores especificações). Rodamos o shopping 3 vezes, depois de recebermos informações de que o caixa eletrônico ficava no primeiro andar, no segundo, atrás do banheiro, do lado de fora do prédio, debaixo do solo, não existia e "Banco do Brasil???". Era na frente da farmácia. Dinheiro na mão, a lei de Murphy não estava satisfeita, e além de já havermos perdido todos os lugares decentes, a versão feminina do Frank que nos atendeu não aceitou nossas carteirinhas de estudante, então a quantia não era suficiente. Acabamos indo ver o terceiro monólogo, aquele que ironicamente havíamos ignorado, e ele valeu cada centavo. A descrição fica para um post a parte.

No domingo acordamos antes das seis. As malas já estavam prontas, o único desafio era fazer o Bruno tomar um banho em menos tempo do que eu levaria para fazer uma escova e depois uma permanente no cabelo. Desafio frustrado. Saímos atrasados e o pastor resolveu que nós devíamos ir ate o aeroporto a pé. Isso ou nenhuma das 24 primeiras paradas por que passamos não serviam. Talvez os 30 quilos nas nossas costas tenham feito o caminho parecer mais longo. De qualquer forma, quando chegamos à parada certa, descobrimos que, como era domingo, o ônibus dormia até mais tarde ou tinha de ir a missa ou coisa parecida. O fato é que tivemos de pegar um táxi, que passou pela porta da casa de onde havíamos saído 40 minutos antes. Mas, de novo, sem mágoas.

O avião causou certo desconforto a todos, dessa vez. Poucos dias antes, havia acontecido aquele acidente em Congonhas. Havia um silêncio desconcertante pelo ar. Até que levantou-se o comentário (entre nós três, mas não revelo quem fui) de que as pessoas do vôo de Congonhas ainda tinham dado tempo de se aliviar com o pouso. Cruel, eu sei, não foi um comentário cômico, realmente só uma observação, que fez com que o Ricardo ficasse verde até a hora que o avião parou de taxiar. Aí eles dois, já bem calmos, me fizeram cócegas até eu gritar pela aeromoça.

O resto vocês já sabem.

Lembrando que essa foi uma versão apócrifa da viagem. Deixei de fora tudo que fosse realmente útil como o Evangelismo e outros fatos de valor moral ou espiritual. Divirtam-se!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Parênteses

Chocada. Foi como fiquei quando descobri que tenho leitores reais. Não sei quando isso aconteceu. Provavelmente em algum momento entre a mudança da lua e a queda do dólar. E o melhor de tudo é que esses leitores têm voz e deixam comentários. Mas não vou tomar decisões precipitadas, não abro mão do meu fiel público imaginário. Com eles os riscos são menores. Eles jamais se decepcionarão com uma vírgula mal colocada ou com um parágrafo desprovido de intenção humorística. Se bem que um outro dia um deles me alertou que não existe "mais ou menos três dedos". Esse é o Frank, ele nunca recebeu muito carinho, por isso é assim, azedo.

Bom, para vocês que leram e gostaram, vou tentar atualizar este blog em períodos mais padronizados, nem que eu tenha de recortar e colar pedaços do Horóscopo do dia. Para os que não gostaram, juro que não fui eu. Só digito o que essa maluca na minha cabeça fica ditando.