terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Desabafo inconveniente

Bom natal para vocês. O meu foi bom. O meu pós-natal é que beirou à tragédia. Idéia do famoso jerico. Fui comemorar o aniversário de um amigo - se é que se pode chamar assim alguém que você quase não vê, com quem não conversa, não sabe em que buraco foi parar a bendita confiança e que já não demonstra nenhuma das atitudes características de um amigo. Mas amigo mesmo assim, porque não existe ex-amigo. Não se desce na escala de amigo para conhecido voluntariamente. Às vezes chega-se ao grau de inimizade, às vezes de rival ou algo parecido. Fora desses casos, o que conseguimos é uma amizade distante, um pouco constrangida, que vai sendo esquecida aos poucos pela ordem natural da sobrevivência, porque quando é lembrada, traz uma mistura de saudade e revolta. Revolta por aquilo que tentamos em vão segurar, mas que insistiu em cair e se espatifar no chão. E no fim, depois de tantas conversas, tentativas e orações, já nem se sabe se é possível, se vale a pena, ou se é mesmo desejável que se juntem os cacos. Meu pós natal me fez relembrar por que eu evito certas situações. Me fez conviver por milhares de horas (umas 4) exatamente com a correnteza que levou para longe essa amizade, dentre outras coisas. Mas é a vida. Ainda creio que em situações como aniversários e casamentos, devemos deixar de lado as distâncias e correntezas e fazer-nos presentes. Sacrificar nossa zona de conforto para estar onde devemos estar. Quem sabe um dia os cacos resolvam tomar alguma forma... é sempre bom estar na lembranças e nas fotos de momentos marcantes da vida de quem nos é importante. Mas aaaaaaai, como eu sinto falta do programa alternativo e sem conflitos de sábado!!!! Nunca ri tanto na vida...

PS: Me desculpem a inconveniência deste post. Acho duvidoso que algum dos (6) leitores sinta-se ofendido mas, caso isso aconteça, me perdoe. É um desabafo, já vai passar. Provavelmente será excluído assim que eu estiver mais lúcida. Ass.: Eu, tonta de sono.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Cena 13 - Escrevi rápido, leiam devagar

Hoje eu vim falar sem elaborar. Vou simplesmente lançar meus dedos contra as teclas negras do computador e permitir que esses pensamentos encontrem o canal de saída na velocidade do vento. Não tenho tempo. Não tenho tido tempo. Ou tenho, mas não para escrever. Tenho tido tempo para dirigir até o trabalho enquanto canto sozinha as músicas da cantata de natal. Tenho tido tempo para fazer ligações a secretárias de ministros para convidá-los para festas. Tenho tido tempo para traduzir discursos e fazer pagamentos que não são meus. Tenho tido tempo para ensaiar todas as noites, tentar cuidar de um ministério, aprender uma peça nova e, no fim do dia, encontrar com amigos que fazem da rotina um mal suportável. O que o tempo não tem me permitido é dormir as tão sonhadas oito horas, almoçar todos os dias, arrumar meu cabelo, fazer compras de natal, renovar meu pobre guarda-roupa, ler, mandar e-mails, atualizar meu blog e, aparentemente, me lembrar de olhar para a luz no fim do grande túnel barulhento que é o cotidiano.

A tal falta de tempo nubla os meus sonhos. E eu tenho muitos, só me esqueço que eles estão por aí em meio à funcionalidade do dia-a-dia. Ontem, a minha falta de tempo me fez dormir no carro e perder parte do culto de oração. Mas em meio a Moisés, Mar Vermelho e orações pelo novo ano, a menção a um desses sonhos me fez derramar lágrimas que eu nem me lembrava que estavam lá. Vou lhes contar a história de um dia no meu futuro.

"Um dia, cuja data está mais próxima do que imagino, porém mais longe do que costumo enxergar, vou acordar, não sei bem de que sono, e o som ao meu redor vai me inundar, fazendo reviver cada fração de esperança e alegria que houverem adormecido em meus anos de falta de tempo. Vou olhar para cima, como todos que esperaram, e a luz que fascinar meus olhos vai me lembrar o caminho que escolhi quando tudo começou. O som de trombetas reais vai me fazer recordar anos de domingos vividos na casa onde aprendi a cantar com motivo. A sensação de chegada ao destino vai fazer cada obstáculo da jornada parecer absolutamente insignificante. Que dia!

Olhos ainda fixados no alto, enquanto o esplendoroso cortejo anuncia a chegada de alguém que antes veio sem pompa e sem lugar. Aquele que achou lugar no meu coração um dia, e lutou incessantemente por mim enquanto eu vacilava no caminho que me construiu. Um que não poupou esforços, e a quem eu crucifiquei cada vez que escolhi sair da retidão da cruz. Mas aquele dia atestará que o amor venceu as fraquezas. E quando eu finalmente reconhecer o nome que tanto anseio ouvir, vou me lembrar de cada vez que o mundo tentou me convencer de que a minha certeza era infundada ou desimportante. Cada vez que a verdade foi descartada como fantasia. E vou chorar de alegria por jamais ter dado ouvidos a quem sabia tão pouco. Sonho com o momento em que serei chamada de ‘filha’ em meio a um sorriso. Como posso depender tanto de algo que não mereço? E como eu não mereço! E como isso faz tudo ainda mais maravilhoso! Ao ouvir o nome, serei atraída para o meio do cortejo, e não haverá mais medo algum. Serei recebida com festa, como se minha chegada até ali não tivesse sido fruto da misericórdia alheia. Vou por inteiro, sem passado e sem dúvidas, receber o presente que me foi comprado com sangue da própria Vida."

Sei que esse momento é tão certo como se já houvesse acontecido. Sei que o gozo que quase explode em meu peito enquanto escrevo é uma pequena amostra do que vou sentir então. Sei que nada pode descrever a vida que será iniciada nesse dia. E sei que, ainda que às vezes nos esqueçamos, o sonho que faz todos os outros parecerem pouco é um dia ouvir o Rei do universo, o Senhor sobre cada pedaço de terra ou mar, sobre cada criatura, rei, presidente ou mendigo, sobre aqueles que crêem e sobre os cegos que preferem não ver, dizer:

“Vinde, benditos do meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”.

E a melhor parte, esse sonho já é real.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Buraco Negro

A todos aqueles que esperavam atualizações freqüentes neste Balneário onde Loucos Ousam ser Gênios (BLOG), inclusive minha própria inocência, peço desculpas. Ando sofrendo de um mal raro, atualmente estudado em alguma dessas universidades cujos nomes não devem ser pronunciados, por causarem danos irreparáveis à língua: CLI - Complete Lack of Inspiration. É uma doença que atinge aqueles que vão visitar o Reino do Nada sem tomar as vacinas recomendadas. Os sintomas podem confundir: dezenas de idéias começam a dançar diante da mente daquele que é acometido pelo mal, levando-o a uma falsa sensação de segurança na própria pena (ou caneta, lap top, graveto na areia, seja o que for que você usa para escrever). Mas a tal segurança transforma-se em desespero quando o enfermo percebe que as idéias não passam de parágrafos introdutórios. Ao final de 7 linhas, é acometido de uma paralisia mental que pode parecer cansaço ou estresse, mas é pane total do sistema criativo.

Os ex-escritores que sofrem desse mal podem ser reconhecidos por dizerem frases como: "Ando sem tempo" ou "estou trabalhando muito ultimamente". Andam meio cabisbaixos, sem olhar outros blogueiros nos olhos. Mas há de ter um remédio, estou me esforçando. Tenho 5 parágrafos introdutórios aqui para provar. E o progresso já é evidente: um e meio e nem precisei colar o horóscopo do dia!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Cena 12 - Super-homens e mulheres

Pronto. Saí do meu coma bloguístico. E antes que vocês perguntem, sim, dava para ouvir tudo. Todas as conversas paralelas ao meu redor, essas que vêm em formato de postagens e comentários nos blogs amigos e no meu. Passou-me pela cabeça entrar nas discussões quase teológicas que andaram ocupando os seus muros. Mas estou de TPM, e creio que todos concordariam que não se pode esperar palavras de sabedoria de uma mulher nesse calamitoso estado. Uma vez por mês todos os nossos problemas emocionais, espirituais e temperamentais ganham justificativa biológica e uma lente de aumento e aí nós ganhamos licença da sanidade. Mas voltando ao assunto...

Super-homens e mulheres

Meus dias de ócio puro e profundo me levaram a assistir muito mais televisão do que eu gostaria. Acabei assistindo a um episódio de um seriado que evitava por preconceito: Smallville. A vida do Super-homem quando adolescente, interpretado por um ator que, se tivesse morrido aos 18 e renascido, já estaria à porta da adolescência outra vez. O que mais me chamou a atenção no personagem, não foi a visão raio X, a estrutura de aço, nem mesmo os olhos verdes ou o sorriso de propaganda de creme dental, mas o fato de ele ser alguém que carrega um segredo que resume grande parte de quem ele é. Na cena, a garota que faz as vezes de centro do universo Clark Kent (e que não se chama Lois Lane) vem até ele e lhe dá uma oportunidade de revelar o que esconde. Mas o segredo tem vida própria. Por mais que ele tenha vontade de deixá-la participar de quem ele é, algo o convence de que ela não poderia, ou não compreenderia.

Confesso que me identifiquei com o menino herói. Sinto que ando por aí carregando uma identidade secreta, uma série de possibilidades e capacidades que ninguém enxerga. Histórias que o mundo não conhece, aprendizados, lições, sentimentos, disposições, perdões, amores, saudades, idéias. Poderes. Pedaços de mim que me capacitam a amar, compreender, cuidar e quem sabe até ajudar e ensinar. Mesmo os traumas, complexos e arrependimentos, que podem não ser bonitos, mas que me fazem apreciar atitudes simples como alguém que fica, que ouve, ou que de outra forma retribui uma amizade.

Imagino que sejamos todos um pouco assim. Temos superpoderes que mesmo aqueles que convivem conosco diariamente ignoram. Podem não ser sobrenaturais, mas são essenciais. Somos mais do que aparentamos. Temos desejos e sonhos que ignoram o bom-senso, choramos em segredo, rimos de nós mesmos, e isso tudo muitas vezes é vivido sem testemunhas (humanas). Queremos ser mais, significar mais, fazer mais diferença. Mas nos contemos, talvez por orgulho, medo, ou simplesmente porque aprendemos assim.

Como o Clark, algumas de nossas experiências dizem que o mundo não entenderia. Poderíamos nos doar mais uns aos outros, se não aprendêssemos com o mundo que quem o faz se machuca. Ampararíamos com mais freqüência, se as pessoas admitissem que precisam de ajuda. Retomaríamos de braços abertos uma amizade perdida, se ao menos o outro demonstrasse que se importa. Demonstraríamos mais carinho, se isso não fosse quase sempre submetido a rótulos. Temos muito mais a dizer, muito mais a oferecer ao mundo. Sentimentos que não servem de nada a não ser quando compartilhados. Histórias que perdem o sentido se não forem contadas.

O alienígena Clark Kent é muito mais humano do que parece. Uma metáfora de nós mesmos. Não temos laser saindo dos olhos, mas também podemos enxergar além da superfície. Não somos de aço, mas já suportamos muito mais do que aparentamos conseguir. Não podemos ouvir a quilômetros de distância, mas ouvimos por horas a fio. E seria bom se aprendêssemos a nos deixar conhecer, ao menos por aqueles que nos amam. Até onde eu saiba, o relacionamento mais significativo do nosso herói foi aquele em que, em algum ponto, ele rendeu-se ao risco e deixou-se ser visto e apreciado por completo. Não é fácil, e nem sempre vai parecer que valeu a pena, mas no fim, é sempre um alívio saber que alguém mais no mundo entende por que você reage mal a críticas, não sabe lidar com mudanças, fica carente todo dia 14, odeia pimentão, tem uma cicatriz no joelho esquerdo ou sai correndo de uniforme azul e capa vermelha quando alguém pede socorro.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Cena 11 - Feliz aniversário, Lê

Eventos importantes da última semana: Aniversário da Lê. Descobri que tenho um(a) sobrinho(a) postiço(a) vindo por aí. Junta-se a isso o fato de que o grande Veríssimo (o que ainda está vivo) passou pela cidade para exibir mais uma de suas paixões – é quase injusto. Devia ser proibido alguém saber escrever e musicar. Isso é monopólio de talentos, a grande prova de que a categorização capitalista já superou as classes socioeconômicas; agora há divisão entre gênios, classe que tenta (músicos amadores, blogueiros) e completamente desprovidos de talento –, a chegada da tão esperada (e internacionalmente conhecida na Igreja de Cristo da Asa Sul) Conferência Missionária, a formatura da Priscila e minha entrada no terreno do desemprego, pode-se dizer que foi uma semana especial. Sendo assim, merece uma postagem especial.

Sinto que o atual saldo da minha conta bancária (algo em torno de R$ 0,29) não permite que eu dê às minhas amigas e à nova pessoinha que vem chegando por aí um pedacinho da minha consideração em forma de algo comprado pelos shoppings da vida. Mas o meu coração silenciosamente as presenteia com dezenas de desejos sinceros, os quais espera que sejam ouvidos por Deus, e assim, cheguem até elas em forma de bênçãos.

Segue a lista (graças a Deus desejos não são tão limitados quanto meu agora inexistente salário. Portanto, eles se estendem a todos). Parece mensagem encaminhada, mas são pensados e genuínos.

Desejo...

Que os seus vícios se limitem a chocolate e filmes água-com-açúcar;
Que entenda que os fortes são isolamento, não proteção, e nunca desista de construir seus castelos;
Que enxergue as pessoas além de suas atitudes, e que seja capaz de perdoar mesmo sem entender seus motivos;
Que saiba que o melhor exercício de convivência é pedir perdão. A razão jamais se acomoda em um “lado” só.
Que escolha ser alegre até quando não tem motivo especial. Alegria não tem muito a ver com estar tudo bem.
Que prefira contagiar e influenciar ao invés de ser influenciado. E que use isso para os poderes do bem.
Que saiba ouvir (bons) conselhos, nem que seja para ter a quem culpar se não der certo. Pelo menos você vai saber que tentou.
Que tenha pureza de coração suficiente para acreditar sempre que alguém lhe disser que vai ficar tudo bem.
Que possa chorar quando tiver vontade, mas que seja sempre sabendo que o Deus que te ama além da razão e que tem todo o poder para virar o mundo do avesso por você está vendo cada lágrima e ouvindo cada motivo. Nunca tente chorar longe da presença dEle. É aí que mora o desespero.
Que consiga aprender a depender completamente dEle antes que Ele tenha de te ensinar que é a única opção para uma vida plena.
Que cada minuto de sua vida tenha propósito. Que a ocasional sensação de vazio se deva apenas ao fato de ter esquecido de almoçar.
Que saiba expressar o que sente e o que quer. Que saiba exigir o que lhe é direito. Mas, acima e tudo, que saiba se calar quando houver essa opção.
Que conheça a beleza de não “sair por cima”, nem falar tudo o que quer. Melhor manter seus créditos nos princípios do Reino do que parecer vitorioso nos valores passageiros do homem.
Que dê bom dia a todas as pessoas por quem passar, mesmo que ele pareça nublado. Nada atrai mais sorrisos quanto distribuí-los.
Que descubra que não é preciso abrir mão do bom senso para se divertir.
Que se divirta, seja contando piada enquanto come brigadeiro, brincando em um pula-pula na chuva, lendo um livro estranho ou dançando com quem gosta.
Que nunca fale de alguém por maldade, especialmente em sua ausência. Isso é importante.
Que seja sempre o melhor que você pode ser. Não há nada mais fatal para a serenidade de espírito quanto acreditar que você não tem como esperar dias melhores porque nem os merece.
Que não espere merecer nada. As coisas mais importantes que você tem vieram sem que você tivesse como merecê-las: A vida. A graça e a misericórdia do Pai. O presente da Salvação.
Que encontre a paz do Senhor. Ela é bem parecida com o que o mundo chama de “a tão perseguida felicidade”. Não elimina os problemas. Não livra das dores. Mas mantém esperança suficiente para te fazer sorrir sempre.
Que tenha amigos. Muitos, com quem se divertir. Alguns, que possa chamar de irmãos. E que você possa contar com estes, mesmo que às vezes eles te decepcionem.
Que nunca perca a ingenuidade que permite que possa confiar de novo em quem te frustra um dia.
Que tenha um blog, um diário, um caderninho de anotações, um violão, qualquer coisa onde possa derramar um pouco de você, compartilhar sua essência com o mundo.
Que nunca seja vítima de seus problemas.
Que veja os momentos de provações como oportunidades de mostrar ao Criador que O ama por quem Ele é, não apenas pelo que Ele faz por você.
Que ore sempre. Para agradecer. Para desabafar. Para pedir. Para chorar. Para louvar. Quando não tiver nada a dizer, curve-se e glorifique. Encontre sua alegria em agradar o coração de quem entregou tudo o que tinha por você.
Que tenha o seu coração e mente firmes em Deus, e seus olhos na promessa do Reino. Esse é o segredo que o mundo tanto busca.
E que conte comigo. Sempre. Perdoe as minhas falhas e ausências. Espero estar sempre aqui para você, até onde o Senhor permitir. Seja para ouvir, compartilhar, falar alto, acompanhar, comer brigadeiro, sair para almoçar, encorajar, pagar mico ou ficar em silêncio.

Amém! Feliz aniversário de novo, amiga Lê! Parabéns pela conquista, Pri! E bem-vindo ao estranho Planeta dos Homens, sobrinho(a)!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Cena 10 - Sobre vícios

Dias atrás passei por um momento metalinguístico que só hoje veio resultar em texto. Resolvi alimentar meu vício, também conhecido como seriado médico com doutores que fazem valer a pena ficar doente, e o assunto do dia era, voilà: vícios. De acordo com o Titaurélio, vício é qualquer coisa que entra em sua vida alcançando posição de hábito, e, mais à frente, desbanca alguém com escritório maior e conquista o cargo de obsessão. Pode ser uma droga, um remédio, uma comida, uma atividade, ou até mesmo um relacionamento. O que liga todos e os coloca no mesmo saco é a busca pela repetição de uma sensação. Quem de nós não tem algo que, se fosse possível, gostaríamos que ocupasse quase todo o nosso tempo, que fizesse parte de quase tudo na nossa vida? Esse quase só tem o tamanho suficiente para evitar o enfado.

O problema dos vícios é que eles já vêm com a obrigação prática de destruir o bom senso. Além disso, suas doses invariavelmente deixam de ser suficientes, e esse querer sempre mais se torna um perigo fatal para a capacidade decisória do ser humano. Isso é bastante claro nos vícios mais óbvios, como substancias ilícitas ou mesmo lícitas (mas que, de acordo com Paulo, não convêm). Entretanto, já não é tão simples de enxergar naqueles mais sutis, como trabalho, estudo, leitura, malhação, ou um relacionamento.

Relacionamentos. Pessoas também viciam. Em minha brevíssima história de vida encontrei várias que me acrescentaram muito, mas também algumas que me levaram mais do que deveriam. Quantas pessoas não ficam presas a uma amizade ou namoro que aos poucos desgastam profundamente sua auto-estima e amor próprio por causa da dependência. Aquilo que mais queremos começa a machucar, e nenhuma das opções que se apresentam parece boa o suficiente. Não é fácil querer se livrar de um vício, ele existe por um motivo. Mas uma hora a constante busca por satisfação e a agonia da abstinência se tornam mais do que se pode suportar.

Em relacionamentos, a abstinência também se apresenta e bate continência na ausência, seja ela a falta do outro ou a falta de reciprocidade. E é aqui que a questão fica mais nublada. O fato de você não receber na proporção em que se doa machuca, mas perder voluntariamente até o que se tem pode parecer insuportável. O que tenho vivido, ouvido e visto ao meu redor, é que, longe da teoria, abrir mão daquilo que faz mal às vezes dói mais ainda. E decidir entre uma dor e outra exige uma força quase desumana.

Como podem perceber, ainda não cheguei a conclusões brilhantes sobre o assunto que proponho. Na verdade, em mim só restam dúvidas, e é por isso que trago o problema para a mesa.
- Só para constar, se o seu vício envolve alguma substancia ilícita (ou a lícita que não convém), não precisa perguntar, ele não tem lado nem vagamente positivo, só adormece os seus neurônios o suficiente para você não perceber isso. Portanto, livre-se dele o quanto antes. Coloque-o no próximo trem para o passado e saia correndo. Os outros estão abertos a discussão -

E enquanto isso vou voltar para os meus vícios quase inofensivos. Tem mais um episódio de Grey's Anatomy para ser assistido por aí e uma barra de chocolate com o meu nome em cima. E se quiserem compartilhar, participem da minha recém-iniciada reunião de VCAA - Viciados em Coisas Aleatórias Anônimos. Até lá!

PS: Não adianta retrucar o "brevíssima", o blog é meu.

sábado, 13 de outubro de 2007

Nasceu!

Segundo a Márcia minhas postagens estão parecendo um parto, então fico feliz em informar que após 10 dias de técnicas respiratórias e contrações, meu mais novo aglomerado de palavras veio ao mundo. Mas só vou publicá-lo mais tarde, ele tá na incubadora por motivos de saúde. Enquanto isso, gostaria que vocês dessem uma nova chance à Cena 9. Alterei o último parágrafo para melhorar a compreensão. Até daqui a pouco!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Gente, antes que alguém distenda um músculo tentando compreender a postagem abaixo, devo confessar que ela não significa coisa alguma. Eu só estava com vontade de gritar, mas precisava criar um clima. É a vida. Prometo uma postagem razoavelmente decente nos próximos dias.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Cena 9, Take x

Faz tempo que a lua se despediu do pedaço de céu que nos é revelado por aqui. Ainda assim, o sol parece que só se acendeu pela metade, deixando a sensação nostálgica de um dia nublado inundar o quarto onde dorme nossa personagem. O despertador já toca pela quinta vez, em uma demonstração obviamente desumana de perseverança. Nada parece suficientemente importante para tirar nossa personagem do conforto do mundo do sono. Ali onde nada dói, nada permanece, nada incapacita, e onde sempre que algo desagradável acontece, é esquecido com a mesma velocidade com que se recobra a consciência. Não fosse o tal bom senso, o despertador seria silenciado de forma mais, digamos, definitiva.

Mas o tal do bom senso tem bons argumentos e vence a batalha no grito. Nossa personagem se levanta, olha ao redor, enxerga a cama que abandonou com preguiça, e segue para o banheiro. Nada de banho, se ao menos o bom senso tivesse vencido ainda no segundo toque do despertador... Procedimentos emergenciais de higienização completados, chegou a vez de explorar o guarda-roupa. Nenhuma novidade, as mesmas roupas que ontem pareciam uma terra de possibilidades, hoje parecem se limitar a uma ou duas que só alcançam adjetivos de adequação. Muito tempo perdido, mas era inevitável. O relógio já acusa o atraso, enquanto nossa ainda desconhecida improvisa uma maquiagem que perdoe a roupa. Brincos, sapatos, nada parece realmente combinar, mas o constante movimento do mundo também não parece combinar com a desejo de paralisação em sua mente, então paciência.

Café da manhã é supérfluo, um luxo que se perde na visão do relógio. Chaves, bolsa, carro. O trânsito é uma das provas de como o mundo é injusto. Todas essas pessoas dirigindo seus carros e suas vidas sem respeitar o fato de que hoje todas deviam desaparecer. Aparentemente ninguém recebeu a circular com a notícia de que hoje é dia da nossa personagem poder se livrar da camisa de força da sanidade. Nossa amiga precisa trabalhar, mas é melhor fazer uma parada antes, pelo bem de todo ser animado ou inanimado que cruzar seu caminho e mente neste dia de chuva. Ela estaciona em um prédio alto e aparentemente lotado, onde ocorrem todo tipo de transações em todos os segundos do dia. Lá, corre para as escadas, sem arriscar o elevador sempre ocupado. Três ou quatro lances acima, vê ao longe a porta que busca, uma sem placas suntuosas nem cores chamativas. São só mais alguns passos e o caminho pelo corredor encarpetado já contradiz a confusão do universo exterior.

A porta. A maçaneta trabalhada é alcançada com um suspiro. Lá dentro só se ouve o barulho de vozes individuais envoltas em silêncio compreensivo. Nossa paciente abre a porta e vê os rostos familiares de sua vizinha (em mais endereços do que o normal), um petista universitário, uma noiva e uma missionária disfarçada de jornalista, todos com razões óbvias para estarem tão cedo na sessão de terapia. Olha para dentro, cumprimenta, toma fôlego, e, finalmente, olhando para o fundo da sala: AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHH!

Pronto. Era só isso. Publicar postagem. Graças a Deus pela terapia em grupo. Agora nossa personagem pode ir trabalhar em paz.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Cena 8

Venho por meio desta interromper a infame greve de produção de textos da minha vizinha Márcia. Se bem que eu considero a atitude dela(s) menos uma greve do que uma chantagem pressionadora. Mas acabou dando certo, e eis o motivo: uma coisa seria privar os meus leitores imaginários da minha dose semanal de coisa alguma. Outra coisa é privar o mundo de todos os blogs amigos! Então, antes que eles se sindicalizem, apresento aqui minha bandeira branca e meus parágrafos cinzas.

Antes de mais nada, devo explicar que o silêncio não se deve a nenhuma súbita emigração de todas as palavras do meu dicionário interno para o buraco negro mais próximo. Nem sequer é um problema de falta de idéias. É mais como uma anestesia da inspiração. Vazio de sentimentos causado pelo excesso deles. Eu explico (e se vocês se esforçarem, podem até entender. Nesse caso, por favor me liguem e elucidem).

Verdade que o tema de fortes e castelos já foi usado, abusado, reciclado, remanejado para a seção de pessoal, virado do avesso, lavado, passado, tingido e reformado, mas na falta de um poeta por perto, fico com essa analogia mesmo. Eu, que fui aos poucos me distanciando do meu forte, hoje me encontro parada diante dele, estática, como quem encara uma possibilidade quase aterrorizante. A cada dois dias dou dois passos a frente, só para recuar outra vez. Os passos de recuo encontram um impulso vestido de certeza de que aquele é o único lugar seguro.

O motivo da hesitação é que eu conheci o mundo aqui fora. E esse mundo marcou imagens na minha mente que insistem em gritar que valem a pena. Talvez valham, mas não sei se suporto a pena (que de leve só têm o nome). Nada é realmente leve quando se trata de coração, de relacionamentos Verticais ou horizontais. Frustrações e decepções podem ser mascaradas, num esforço heróico para manter qualquer sanidade cristã, mas algum momento de honestidade profunda os revela. Não quero ter dúvidas, aprendi na EBD que são o primeiro passo para a incredulidade. Mas se os meus sentimentos mais sinceros não me fazem bem, só conheço o caminho de volta para o vazio.

Como se manda o coração mudar suas reações? Como se faz algo importante para você deixar de importar? Como se faz uma dor parar de doer? Neste último caso conheço o poder dos analgésicos. Enfrento enxaquecas desde os 4 anos de idade. Os 6 médicos já visitados são unanimes em dizer que não há cura, há tratamento. Minhas doses semanais de tylenol não me livram do problema, mas anestesiam o meu organismo de forma que ele pouco me atinja. Essa é a versão médica do forte. Vive-se bem, mas dependente do não sentir.

E cá estou eu, encarando a única solução aparentemente viável para o meu problema. Se não posso mandar no meu coração, posso ao menos adormecê-lo, antes que ele se volte contra quem não deve. Mais ou menos como colocar um animal selvagem para dormir, de forma que ele não ataque quem quer lhe trazer cuidados. Infelizmente não tenho anestesia local no meu estoque, então a medida me fez entrar no vazio. Estou à porta do forte, não entrei completamente nem fechei a porta (ou não escreveria este texto) porque o vazio que o preenche já não me atrai. Mas ele ainda parece o único lugar seguro.

Então, caros amigos blogueiros e leitores reais, suspendam a greve, levem seus cartazes e voltem ao trabalho. O mundo precisa de vocês!!!! Eu preciso de vocês. Meus vazios costumam ser repletos de filmes e textos, qualquer história que não seja a minha, quaisquer sentimentos que não sejam os meus. E perdoem a minha falta de assunto. Não gosto de escrever quando não posso dar a quem lê algum sabor de humor ou bem-estar. Nunca pretendi que este blog fosse um diário nem sessão terapêutica, a qual me faria paciente de toda a comunidade cibernética. Mas a verdade é que devo a vocês boa parte do meu equilíbrio (mesmo ele não sendo a parte mais evidente de mim). Sintam-se livres para comentar, minha vida é um blog aberto.

PS: Acho que desta vez eu tenho de torcer para que apenas meus leitores imaginários apareçam por aqui. Tem um pouco mais de sinceridade neste texto do que eu gostaria, mas me disseram que era terapia em grupo!!!

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Cena 7 - Minha nada coerente vida

A vida da nossa tão abrangente classe média já é, sem auxílio externo, uma grande contradição. Metade das pessoas que eu conheço vivem quebradas, mas comem fora em todas as oportunidades. Quem precisa de casa própria se você pode comprar uma televisão de 210 polegadas e tela tão plana que deve ser mantida na horizontal porque senão a imagem desliza? Dez vezes quase sem juros. São as incoerências e peculiares administrações financeiras da vida.

Minha participação nessa sociedade é bastante agravada pelo meu ambiente de trabalho. Aqui, quando meu expediente é estendido devido a algum evento, eu como camarão e vitela: na cozinha. Outro dia estava traduzindo um artigo baseado no discurso de um ministro britânico em visita ao Brasil. Durante o processo comecei a mergulhar no glamour do momento, a confiança que haviam depositado em mim, o artigo sendo publicado no dia seguinte, em nome de uma autoridade do mundo desenvolvido. Mas meus pensamentos foram interrompidos quando tive de sair da mesa correndo para dar lugar ao estagiário, que ocupa minha mesa na parte da tarde. De meu aqui, só o trabalho.

O auge dessa sensação me veio em uma quente tarde de julho. Estava há meses participando ativamente da organização da visita da Princesa Real britânica ao nosso querido Mulato Inzoneiro. O dia correu como planejado, todos os eventos em perfeita cadência, culminando em uma pequena reunião com os funcionários para finalmente termos a chance de falar com a filha da Rainha Elizabeth II (ou, o que me parece mais importante, tia do Príncipe William). Quando chegou a minha vez, o Embaixador me apresentou como "a temporária que está sempre aqui" e ela fez alguma brincadeira igualmente engraçada. Em algum nível do humor britânico esses comentários divertem surdos e puxa-sacos. Estendeu a mão e nos cumprimentamos. Foi interessante, não sei se algum dia terei a oportunidade de conhecer outra pessoa que use uma coroa e não esteja saindo do Burger King. Alguns minutos depois, caminhei 20 minutos sob o sol vespertino até a parada (de salto e terninho), subi no ônibus, e liguei para minha mãe para contar tudo isso. Imagino que as pessoas que estavam me vendo em pé em um ônibus lotado em movimento, tentando me equilibrar enquanto segurava minha bolsa com uma mão e o celular com a outra, devem ter pensado que a próxima coisa que eu iria contar é que havia dançado a valsa com o Bill Clinton.

Enfim. Vou-me. Acabei de conhecer mais um ministro britânico que aparentemente vai mudar alguma coisa importante no mundo ou pelo menos o cardápio do almoço. Mas eu tenho de ir, porque nos restaurantes que eu posso pagar, se não chegar cedo o feijão acaba.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Adeus, Pavarotti

Gente! O Pavarotti morreu! Ou não, essas grandes lendas não morrem, elas "deixam a vida para entrar na história", como já disse alguém. Sem entrar em méritos espirituais, se morrer implica em deixar de existir, uma pessoa que deixou sua voz gravada em tantas mídias, ouvidos e corações engana a morte. Tenho a estranha tendência de sentir saudades dessas pessoas que nunca conheci e jamais conheceria, mas que por algum motivo admiro. Fico um pouco triste pelo mundo, que agora carrega um gênio a menos. Por essas e por outras, e ainda que sua marca permaneça, deixo aqui meu respeitoso adeus.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Parênteses 2: Momento desabafo

Sempre gostei de assistir a filmes e afins com grandes personagens femininos, que não deixavam nada abalar seu charme. Estavam sempre por cima, até quando colocadas em uma situação sem saída. Sempre encantadoras, e com as atitudes mais certeiras. Eu assistia a tudo como quem vive uma vida paralela, e sonhava. Cada vez que davam uma demonstração de como nasceram para ser protagonistas, eu sentia que podia ser como uma delas. Então o que fariam agora, hoje, como personagem principal da minha vida real?

Se vivo uma trama que não é a ideal, mas digna de qualquer novela, me pergunto o que me faria ser a protagonista, não apenas a coadjuvante que só serviu para movimentar a história. Me recuso a vagar pelo enredo e sair como quem abriu caminho e deixou o palco no segundo ato. Não, deve haver alguma coisa. Talvez uma vingança bem planejada. Talvez uma virada na trama ou palavras de efeito. Queria a autoconfiança que brota desses personagens.

Mas a verdade é um pouco diferente. A verdade é que estou em casa, com o coração batendo rápido demais e a garganta apertada. Há uma certa angústia que drena minhas forças e nem me dá chance de sair de salto alto de um capítulo que já revelou seu fim. Só me resta o velho caminho dos que sentem mais do que gostariam: Chorar. Não é glamoroso, nem revela grandeza. Mas traz um certo conforto em saber que toda essa tristeza tem um canal de saída. Dá esperança de que um dia leve consigo todos os seus pertences e deixe o recinto para sempre. E enquanto isso não acontece, sempre vale fazer brigadeiro e assistir às heroínas que conseguem o que eu não consigo. Talvez elas me ensinem o que se faz depois do fim da cena.

PS: Feio e nada educativo admitir, mas sinto um pouco de saudades do forte.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Cena 6, Take -1

Resolvi fazer algo diferente desta vez. Estava limpando meus arquivos (essa é a parte diferente) e encontrei um velho texto que escrevi em um momento de inspiração demagógica. Resolvi postá-lo aqui, não por falta de idéias atuais, pois, não se enganem, minha cabeça é um buraco negro absolutamente lotado de pensamentos, mas porque o tema do texto é expecialmente pertinente ao que eu tento viver hoje. E porque, talvez, a proposta seja útil a vocês. Espero que gostem, mantendo em mente, é claro, que foi escrito há muito muito tempo, quando eu não era considerada gente, apenas adolescente.

Aí vai:

"Um dia desses recebi por e-mail uma mensagem que dizia "Agradeço às pessoas que me atiraram pedras, porque foi com elas que construí um castelo". Fiquei cogitando sobre o sentido geral da frase, que seria o de tirar proveito das más situações da vida. Logo tentei pensar no que eu estava fazendo com as pedras que me foram atiradas. Eu construí alguma coisa, sei que não as ignorei. Mas não foi isso.

Algumas pessoas constroem castelos, outras constroem escadas. Eu construí um forte. Empilhei pedras ao invés de lançá-las fora ou dar-lhes alguma forma. E o forte tornou-se maior que eu, permitia-me apenas alguma visão por cima quando eu me punha na ponta dos pés, da qual eu me esquecia logo ao descer e encarar a parede outra vez.

Esse muro foi construído com palavras duras e lembranças enrijecidas, e rebocado com uma mistura de mágoas, lágrimas e insanidade. Pedra e cimento da mente. Não, do coração. O forte parece eficiente, ele protege contra os intrusos, velhos ou novos. Mas quem não sabe que as melhores e as piores coisas às vezes caminham na mesma estrada? Podem até não chegar juntas, mas você as encontra nas mesmas paradas. A velha história da rosas e seus espinhos e blá blá blá.

Dessa forma, ao tentar impedir que pessoas, situações e sentimentos nos alcancem, não só estamos nos iludindo, pois cedo ou tarde algo vai ultrapassar a proteção do forte, como também estamos nos privando de novas surpresas, novas e belas emoções. Dessas que vale a pena viver mesmo que esteja implícito um certo risco. O amor, em todas as suas formas, a confiança, a convivência, são algumas das melhores coisas que uma pessoa pode alcançar na vida. Muitas vezes, mesmo que elas não os tragam consigo, são seguidos sorrateiramente por desilusões, tristezas e julgamentos. Estes, entretanto, são apenas visitantes nômades. Eles se vão.

Admiro a pessoa que escreveu aquela frase. Mas para nós que ainda não víamos utilidade para as pedras, eis aí então uma fórmula. Se sentir que estão te atirando pedras, não construa, jamais, um forte. Ele não é proteção, é apenas isolamento. E construí-lo significa a possibilidade de perder do melhor da vida. Ao contrário, dedique-se a construir um castelo, um bem grande e bonito. Um João, um Augusto. Você mesmo. Eu mesma. Se as pedras são metáforas, que o castelo seja poesia. Que seja feito de fé e rebocado com perdão. E quando ele estiver pronto, convide o amor para ficar, agora que você tem espaço. E convide também todos aqueles que te jogaram as pedras, para que eles entendam que mais decisiva do que a matéria-prima, é a possibilidade e a habilidade de moldá-la."

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Cena 5, Take 3

Para quem não sabe, depois de meses e meses de acúmulo monetário e economia que beirava a pão-duragem, peguei minha carta de transferência do CCPOV (Clube dos Completamente Dependentes dos Ônibus da Viplan) para o CCDPG (Clube dos Completamente Dependentes do Preço da Gasolina). É isso aí, motorizei-me. Presente de Deus.

Mas isso me inspirou a escrever sobre algo que queima no meu coração há muito tempo: a estranha cultura dos membros do CCPOV. Essa comunidade cujo principal temor depois do câncer e violência, é ver aquele enorme mercedez amarelo passando ao longe enquanto tenta alcançar a parada. Após anos de pesquisa infiltrada, eis o relatório:

A primeira coisa que se deve saber ao adentrar tal comunidade é que ônibus são tão imprevisíveis, em termos de horário, quanto o humor de uma mulher com TPM. E, nos dois casos, reclamações não são bem-vindas, muito menos levadas em consideração. Você tem duas opções: Chegar mais cedo e esperar; ou chegar em cima da hora, perder o ônibus e esperar o próximo da linha. Leque de alternativas bastante limitado.

A parada é quase um evento social. Alguns estranhos que se encontram diariamente no mesmo local, no mesmo horário. Ninguém pergunta nomes, mas todos sabem detalhes uns sobre os outros como onde moram, onde estudam, quantos filhos ou que consulta médica têm no dia. Praticamente uma reunião de AA. Sei, por exemplo, que a senhora que se sentava no segundo banco da parada a partir das 7:55 mora mesmo em Valparaízo, mas vem dormir na casa da filha, no guará, porque a menina descobriu que tem alguma doença semi-grave, apesar de o dr. Marcos ter-lhe dito que são apenas gases. Achei uma atitude nobre, eu é que não monitoraria uma pessoa com gases, não importa quanto amor estivesse envolvido.

A espera na parada é uma gangorra de emoções. Não recomendada a quem tem algum problema cardíaco. Cada veículo maior do que um carro popular que surge ao longe, levanta uma expectativa quase cruel. Será ele? Parece, é amarelo. Está vindo nesta direção, e eu acho que reconheço a lentidão do meu motorista. É ele, tem de ser, olha só aquele farol quebrado. E aí, quando ele chega, era só outro W3 Sul. Decepção. Tristeza. Desespero. Outro ônibus surgindo ao longe. Agora tem de ser ele.

Quando o ônibus certo finalmente chega, todas as esperanças se refazem. Problema resolvido, ninguém nem se lembra da agonia de momentos antes. Toda aquela legião de membros do CCPOV se reúne a beira da calçada, como se o ônibus fosse passar direto pelo meio-fio sem parar, e só entrará nele quem correr e saltar para dentro, mais ou menos como os caminhões de lixo. Na entrada, o sistema é “salve-se quem puder”. Aparentemente aquela é a porta da paz e tranqüilidade eternas (ao menos pelos próximos 40 minutos) e quem não brigar por ela nunca mais vai a lugar nenhum na vida. Regra da Viplan, quem entra por último fica eternamente proibido de pisar em qualquer veículo coletivo. Vale impedir a entrada dos coleguinhas com o braço, colocar o pé na frente, empurrar com sutileza, tudo menos morder e puxar os cabelos.

Uma vez dentro do ônibus, a sensação de dever cumprido e tranqüilidade é reinante. Isso se você tiver a sorte de morar perto de uma das primeiras paradas, o que se traduz em viajar sentado. Caso contrário, o percurso é apenas mais uma parte do martírio, no qual o passageiro tenta, ao mesmo tempo, não cair nas curvas, não derrubar suas coisas sobre os outros e encolher o traseiro significativamente, para permitir a passagem dos próximos desafortunados das últimas paradas.

Eu moro perto da quinta parada, sempre ia sentada. Evito os assentos duplos, pego o único assento solitário do ônibus. A vida social dentro de um coletivo amplifica milhares de vezes o terrível constrangimento do elevador. Não são 3 minutos, mas quase uma hora ao lado de alguém que você não conhece e não faz questão de conhecer. No meu caso, eu sempre ia com o Ipod no ouvido, o que fazia de qualquer conversa educada uma interrupção quase angustiante. Pause apertado, fones removidos mas sem se distanciarem muito dos ouvidos, cara de quem tá com pressa. Não funciona muito bem em senhoras acima de 60 anos.

Nao, eu era a dona do assento solitário. Lá eu escorregava no banco, colocava minhas 600 músicas preferidas para tocar, casaco estrategicamente posicionado entre minha cabeça e a janela, e dormia, porque a única coisa que me fazia levantar mais cedo para pegar ônibus era a promessa silenciosa de voltar a dormir assim que entrasse nele. Há algum tipo de sonífero naquelas cadeiras, não sei dormir em lugar nenhum que não tenha cara de cama, mas aquela cadeira dura, naquele ônibus em movimento nada sutil é especial.

O destino. Aqui os fins justificam os meios (de transporte). Ao final da jornada, a liberdade e o silêncio do ar livre apagam qualquer sentimento vagamente assassino criado na última hora. Nao se iludam, este não é o fim. A viagem de volta, na hora do rush, é muito mais divertida, mas ela fica para depois.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Cena 4, take 13 - A Viagem parte 2

Finalmente... O problema é que nesse meio tempo, entre a viagem e o parênteses, esqueci 80% daquela semana. Mas vamos lá. Em caso de faltar a lembrança, a imaginação está sempre pronta para tomar sua cadeira (e ela é abusada, do tipo que ainda cruza os pés sobre a mesa).

Depois de alguns dias na Penha Circular (ou, como gostamos carinhosamente de chamar, na Faixa de Gaza), pedimos para ser transferidos para o Leblon (também conhecido como Suíça). Deixamos para trás o Patrick, tristes pela perda da possibilidade de vivenciar as experiências a que ele nos expunha. Não sei como sobrevivemos sem a insistência dele em nos dar comida na boca, com as próprias mãos, as quais ele cuidadosamente passava por todos os cantos da casa, da rua, do chão, do banheiro e dele mesmo. Desenvolvemos boas habilidades de escape e fuga frenética.

Na Zona Sul, fomos acolhidos por pessoas absolutamente maravilhosas, cujos únicos defeitos evidentes eram a capacidade de falar por períodos mais longos do que o ouvido humano é capaz de ouvir, e a mórbida tendência de continuar atirando na língua portuguesa depois que a coitada já estava praticamente enterrada. A casa era menor e mais simples, mas também aconchegante. O Rio de Janeiro estava na janela, mas sem os famosos 40º. Estava mais para Rio 16º. Ou 11, a noite.

Conhecemos, convivemos, nos envolvemos nas vidas das pessoas que nos acolheram. Distribuímos abraços grátis pelas noites de Copacabana e descobrimos que tem muita gente carente neste mundo. Os que não eram carentes, achavam que nós éramos, então davam o abraço assim mesmo. Claro que, assim como o Frank, há sempre aquelas pessoas que não receberam amor suficiente dos pais e ficam azedas, o que resulta em uma criança de 12 anos gritando: " Vai dar abraço grátis na sua maezinha!". Outros comentários foram: "Eu sou judeu!" - acho que isso significa que judeus não se abraçam -; "Não dou abraço em marmanjo, só nela ali!"; e propostas: "Você distribui beijos grátis também?". Saíamos de lá com nossos níveis de serotonina prestes a causar uma overdose. Depois ainda íamos comer alguma variação da Bomba do Guará.

No sábado, nossa noite de folga, resolvemos ir ao teatro. Passamos algumas dezenas de minutos na parada, tentando pegar um ônibus para a Gávea, mas aparentemente os motoristas confundiam o nosso aceno com um adeus. Pelo menos uns 4 passaram direto. Resolvemos então que isso era um sinal para irmos para o Barra Shopping. Pegamos um ônibus superlotado, onde a protuberância traseira do Ricardo e das outras pessoas se bloqueavam mutuamente. Só eu pude sentar (umas das 27.904 vantagens de ser menina). Depois de cerca de 30 minutos de viagem, resolvi perguntar ao estranho sentado ao meu lado quanto tempo levaria para chegarmos à Barra. "Uma hora e meia", foi a resposta. Segundo meus cálculos, nesse caso chegaríamos bem a tempo da apresentação de domingo.

Quis saber então como saltar na Gávea. Nao sei se ele estava tentando se livrar de nós porque estávamos rindo enquanto ele tentava dormir, mas ele disse: "Desçam na próxima parada". Descemos. Na entrada da Rocinha. A verdade é que tivemos de pegar outro ônibus e atravessar um túnel para chegarmos ao Shopping da Gávea. Sem mágoas daquela criatura de Deus.

Havia 4 peças em cartaz no local. 4 Monólogos, na verdade. O primeiro que tentamos já havia começado. O segundo estava esgotado. Passamos direto pelo terceiro, e estacionamos no quarto. Nenhuma máquina de VISA a vista, alguém tem de correr para pegar dinheiro. Com isso nós descobrimos que cariocas (sem ofensa) são tão bons em dar direções como os nossos vizinhos (sem maiores especificações). Rodamos o shopping 3 vezes, depois de recebermos informações de que o caixa eletrônico ficava no primeiro andar, no segundo, atrás do banheiro, do lado de fora do prédio, debaixo do solo, não existia e "Banco do Brasil???". Era na frente da farmácia. Dinheiro na mão, a lei de Murphy não estava satisfeita, e além de já havermos perdido todos os lugares decentes, a versão feminina do Frank que nos atendeu não aceitou nossas carteirinhas de estudante, então a quantia não era suficiente. Acabamos indo ver o terceiro monólogo, aquele que ironicamente havíamos ignorado, e ele valeu cada centavo. A descrição fica para um post a parte.

No domingo acordamos antes das seis. As malas já estavam prontas, o único desafio era fazer o Bruno tomar um banho em menos tempo do que eu levaria para fazer uma escova e depois uma permanente no cabelo. Desafio frustrado. Saímos atrasados e o pastor resolveu que nós devíamos ir ate o aeroporto a pé. Isso ou nenhuma das 24 primeiras paradas por que passamos não serviam. Talvez os 30 quilos nas nossas costas tenham feito o caminho parecer mais longo. De qualquer forma, quando chegamos à parada certa, descobrimos que, como era domingo, o ônibus dormia até mais tarde ou tinha de ir a missa ou coisa parecida. O fato é que tivemos de pegar um táxi, que passou pela porta da casa de onde havíamos saído 40 minutos antes. Mas, de novo, sem mágoas.

O avião causou certo desconforto a todos, dessa vez. Poucos dias antes, havia acontecido aquele acidente em Congonhas. Havia um silêncio desconcertante pelo ar. Até que levantou-se o comentário (entre nós três, mas não revelo quem fui) de que as pessoas do vôo de Congonhas ainda tinham dado tempo de se aliviar com o pouso. Cruel, eu sei, não foi um comentário cômico, realmente só uma observação, que fez com que o Ricardo ficasse verde até a hora que o avião parou de taxiar. Aí eles dois, já bem calmos, me fizeram cócegas até eu gritar pela aeromoça.

O resto vocês já sabem.

Lembrando que essa foi uma versão apócrifa da viagem. Deixei de fora tudo que fosse realmente útil como o Evangelismo e outros fatos de valor moral ou espiritual. Divirtam-se!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Parênteses

Chocada. Foi como fiquei quando descobri que tenho leitores reais. Não sei quando isso aconteceu. Provavelmente em algum momento entre a mudança da lua e a queda do dólar. E o melhor de tudo é que esses leitores têm voz e deixam comentários. Mas não vou tomar decisões precipitadas, não abro mão do meu fiel público imaginário. Com eles os riscos são menores. Eles jamais se decepcionarão com uma vírgula mal colocada ou com um parágrafo desprovido de intenção humorística. Se bem que um outro dia um deles me alertou que não existe "mais ou menos três dedos". Esse é o Frank, ele nunca recebeu muito carinho, por isso é assim, azedo.

Bom, para vocês que leram e gostaram, vou tentar atualizar este blog em períodos mais padronizados, nem que eu tenha de recortar e colar pedaços do Horóscopo do dia. Para os que não gostaram, juro que não fui eu. Só digito o que essa maluca na minha cabeça fica ditando.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Cena 4, Take 12

Cheguei ontem de viagem. Fui à Cidade Maravilhosa durante os Jogos Pan-Americanos. A ironia é que nem me apresentei, em toda minha palidez – ou, como eu gosto de chamar, cor de escritório – ao oceano, muito menos vi jogo algum acontecer. Para não dizer que não desfrutei de nenhuma das belezas de uma cidade litorânea, pisei de tênis na areia e coloquei mais ou menos 3 dedos da mão direita no mar, por cerca de 4 segundos. Emocionante.

Passando aos outros aspectos da viagem, ela foi um pouco diferente do que eu esperava, mas tão boa quanto imaginava. Tudo começou no aeroporto, quando a companhia aérea, para não decepcionar, fez a gentileza de nos dar tempo de sobra para tomar um bom café da manhã e torturar nossa carona, que tinha acordado às 5 da madrugada para nos levar e, em um lapso utópico inexplicável, planejava voltar para a cama antes de ir trabalhar. É comovente o som de sonhos sendo calmamente diluídos no ar frio de algumas horas no aeroporto. Já no avião, revisitamos o infalível prazer de descobrir novas fobias em amigos: o Ricardo tem medo de voar. Talvez seja um medo patológico, ou talvez os freqüentes desastres de avião que vêm ocorrendo no nosso país nos últimos meses tenham ajudado. Fica a dúvida.

Procedimentos em caso de emergência, cinto de segurança afivelado em todos os momentos, bandeja para cima, cadeira na posição vertical. Claro. Adoro pensar que se o avião cair vamos nos salvar porque estamos presos à cadeira. Ufa! Pobre coitado do senhor da poltrona 14F, morreu porque a bandeja estava na horizontal, nada a ver com o impacto de uma queda de 10 mil metros a 600.000 km/h seguida pela explosão. Bandeja assassina. E esses bancos flutuantes me deixam muito mais calma. No caso de “pouso” na água, é só nos agarrarmos à poltrona. Ela também tem suprimento interno de comida para 7 dias, cobertores impermeáveis e lança raios ultra-sônicos que espantam tubarões. Praticamente um produto Tabajara. Mas não deixe que isso os assuste, aviões são o meio de transporte mais seguro, comparativamente falando.

Finalmente, a famosa cidade dos grandes poetas e praias. No caminho de uma hora e meia para o alojamento, o coordenador do lugar nos deu uma descrição bastante agradável sobre o local. Alguém já ouviu falar sobre o Complexo do Alemão?
É uma sigla para Como Ouvir Mais Pipocos Longínquos E Xingar O Demente Operante Acusado de Levá-lo, Enquanto Meticulosamente Assustava o Observador. Também pode significar “Como morrer por bala perdida” no idioma local, língua romana também conhecida como “Sejamus Realisticus”. Foi naquela direção que fomos. Mas não se assuste, não ficamos lá no meio do morro, ficamos ao redor, onde os tiros pareciam fogos de artifício.

A casa onde passamos os primeiros dias era espaçosa, apesar de faltarem algumas fechaduras. A falta de lâmpadas, chuveiros elétricos e água não me incomodava, só queria que houvesse portas e fechaduras. Se um dia chegarem a conhecer o Patrick, meu mais novo pretendente a marido, vão entender. Em uma de nossas noites lá, a figura desceu no meio da noite, enquanto ainda assistíamos a um filme, e entrou no banheiro. O que veio a seguir foi o inconfundível barulho de pequena corrente de água quente caindo dentro do poço de louça branca, seguido do barulho de uma tampa se fechando bruscamente. O único fato anormal, é que o segundo barulho veio bem antes de o primeiro terminar. E a pequena corrente continuou, só que dessa vez caía em lugares diferentes. Nesse momento fiz o que qualquer boa menina faria: Agradeci muito a Deus por ter tomado banho 20 minutos antes, e fui dormir. Os meninos passaram boas horas desinfetando o chão naquela noite.

Continua…

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Cena 3, Take 3,45656

Nome completo: Talita Guimarães Sales.

Idade: varia.

Aniversário: Todo ano

Formação: No útero.

Profissão: varia.

Filiação: Meus pais.

Irmãs: duas.

Irmãos: em Cristo.

Cunhados: varia.

Status: não.

Signo: Devo ter nascido no encontro da segunda lua com o quarto anel de saturno. Isso explicaria muita coisa.

Religião: Filha de Deus (escolhida, destinada e com livre-arbítrio).

Deus: Presença constante. Senhor.

Amigos: Especiais. Excepcionais. Essenciais.

Vícios: Chocolate. Seriados Americanos. Discípuluz. Filmes. Caneta e papel (vício não-degustativo).

Pedidos ao gênio da lâmpada:

- Um sistema infalível de comunicação mundial que possibilite que todas as pessoas do planeta ouçam o evangelho simultaneamente, em sua própria língua.

- Um chocolate que elimine as calorias do corpo.

Cicatriz: 4.

Dentes: 28.

Unhas: fracas.

Medo: de Gremlins.

Rugas: Nos pés.

Livro: que tenham palavras.

Crônicas: Veríssimo.

Poemas: Vinícius. Clarice.

Defeito: Impaciência.

Qualidade: Boa pergunta.

Arrependimento: Poucos, mas importantes.

Hoje: Melhor momento.

Amanhã: Melhor possibilidade.

Ontem: Melhor lembrança.

"De ontem em diante serei o que sou no instante agora"

terça-feira, 10 de julho de 2007

Cena 2, take 0,7345

Boa noite, leitores,

Me dei conta agora há pouco que, enquanto as crianças americanas problemáticas têm amigos imaginários, eu tenho leitores imaginários...

Como sabem, criei este blog na semana passada para dar ordem à minha necessidade de escrever. Troquei os bloquinhos de rascunho, a palma da minha mão esquerda e a agenda do Bruno, onde minha obsessão por deslizar a caneta por um pedaço de papel (ou pele) me levava a escrever qualquer coisa, de receitas a uma paráfrase do Hino Nacional, por um caderninho no mundo virtual com leitores imaginários. Só que hoje me bateu a grande dúvida existencial de um blog: sobre o quê escrever? Provavelmente sobre a fascinante ordinariedade do cotidiano, sobre as cenas comuns do dia-a-dia que, de tão familiares, nos caem como uma bigorna do óbvio sobre a cabeça. Mas para que minhas observações sobre a bigorna sejam no mínimo interessantes para vocês, é preciso que me conheçam. Por isso, vou gastar os próximos espaços me apresentando a quem se dispor a ler meus textos para que, assim, sejam capazes de ler também a mim.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Cena 1, take 1

No início, a Terra era sem forma e vazia... E aí Deus criou Adão, pai de Abel, pai de alguém, que tempos depois foi pai de Abraão, pai de Isaque, pai de Jacó, pai de José, pai de mais alguém, que não conseguiu créditos na Bíblia, [...milhares de anos...] pai de Ezequias, não o rei, o pastor, pai de Talita. Essa é a minha história. O resto vocês já sabem, porque o único motivo que levaria alguém a ler este aspirante a caderninho de idéias seria uma amizade muito perseverante ou ligações inegáveis de sangue. De volta ao assunto, já que você já adentrou o estabelecimento (mesmo se por engano), melhor dizer a que vim.

Decidi voltar a escrever. Não porque mereço ser ouvida, nem porque tenho grandes percepções sobre a vida, a morte e a intolerância mundial que se negam a permanecer caladas. Escrevo porque preciso, porque de alguma forma a vida faz mais sentido assim, com a possibilidade de testemunhas. Há algo mágico em traduzir pensamentos e sentimentos em palavras. Coloca sua cabeça em ordem e compartilha com o desconhecido o peso de tanta informação. A verdade é que eu não espero ser lida. Basta a palavra ser lançada, se ela vai correr ao encontro de alguém eu não sei. Meu mundo interior não pára, e as idéias estão fazendo fila para sair, com ou sem destino (topariam até ir em excursão em meio à Operação Padrão e às vésperas da greve da Infraero).

Ah, e já vou avisando que tenho um problema com conclusões. Conclusões podem justificar a existência do texto, salvando o autor, ou afogá-lo de vez. Diante de tamanha responsabilidade, só finalizo um escrito quando encontro o final perfeito. Antes que você pense que este que você lê já foi enterrado sem conhecer Jesus, aliviei a pressão dele, já que é basicamente uma festa de boas vindas aos meus leitores imaginários. E festas não terminam no auge, diminui-se o ritmo e o anfitrião despede os convidados aos poucos. Sendo assim, caros companheiros, bem-vindos, tirem os sapatos (não as meias) e sintam-se em casa.