quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Cena 23 - Reflexão antiga

Mais uma limpeza no armário e me deparei com velhas situações. Algumas anotações antigas (bem antigas) e por alguns segundos eu revivi um momento de grande dor (note-se que a proporção de dor em relação à situação era adequada à idade). Sentia-me cercada por julgamentos, e o pior deles partia de mim mesma. A sensação de completa incapacidade de consertar um erro me alcançou em uma noite atribulada, em que o sono parecia uma aspiração tão impossível quanto ganhar na loteria (já que eu não jogo...). E foi aí que tive uma experiência interessante, uma "luz no fim do túnel".

E naquela mesma madrugada, enquanto aguardava o sol aparecer para fugir do terreno hostil, onde o som de palavras impiedosas ainda ecoava com força, coloquei no papel uma experiência que me veio em poucos segundos de clareza espiritual. Ouso compartilhá-la com vocês na esperança de que alguém que se veja sem saída encontre algum conforto. Não havendo ninguém, serve para compartilhar com vocês um pedaço de quem já fui, e algo muito simples que mudou meu mundo em uma certa madrugada de um certo passado.

"São tantos os problemas e medos

Aqui, entre quatro paredes de erros

Não há alívio, não existe saída

Se cada atitude é uma dor sem vida

Para onde me viro, bato em concreto

E se tento, hoje, sei que nunca acerto

Sento-me no chão e choro sem alento

A prisão sufoca meu ser desatento

Lágrimas nos pés, olho para cima

E aí vejo onde a construção termina

Esta prisão não tem telhado

E a liberdade só vai vir do alto

Ergo os braços e a Ti me entrego

Sei que em adorar-Te, enfim acerto"

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Cena 22 - Sobre cachorros e viagens

É, hoje eu não tenho nenhuma sabedoria para transmitir, nem alguma situação engraçada para contar. De novo. Isto aqui é só mais um desabafo. Vou dar um espaço a seguir para dar ao leitor mais uma oportunidade de deixar o blog. Depois não digam que eu não avisei...
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A gente às vezes entra em uma situação se prevenindo tanto por um lado que esquece o outro. Tampa o rosto com a coberta e descobre os pés. Aí, ao invés de ficar com o nariz gelado, você acaba mordido pelo cachorro. Que seja, o lance é que não estou para conversa. Estou a ponto de chutar o cachorro. Acabei de comprar o gato, como vou saber se ele vale a pena eu brigar com o cachorro, se o cachorro vai acabar aceitando a nova companhia, ou se é melhor abrir mão do gato e continuar com a aprovação do “fiel amigo”. E se o gato for o que eu preciso? E se quando o cachorro morde é o gato que lambe as minhas feridas, como deixá-lo ir? Talvez eu ressinta o cachorro eternamente, porque afinal, ele é de casa, dele eu não posso abrir mão, mesmo que às vezes queira. Ele tem costumes que não batem com a minha personalidade. Tem um método estranho de amar e proteger. Mas como prever meu futuro com o gato? E por que eu preciso saber disso agora? Por que não posso simplesmente viver, conviver, experimentar, sonhar...? Enfim, chega de conversas intensas sobre o que não preciso ter certeza ainda. Chega também de acusações sobre um passado que não me pertence. Chega. O cachorro ressente meus antepassados por algo que eu desconheço e desconta em mim. Eu sei, “x”!!!! Eu não estava lá!!! Eu não sei por que você não pára de latir!!! Os dois assuntos se misturam e isso fez da minha viagem uma tortura quase nazista. Rodeada de cachorros. Em cada parada, o assunto, o gato, os antepassados, o passado, “aquilo”, o “x”. É, eu amo o cachorro, ou “os cachorros”. Não por opção, por tradição, é família. Mas sim, estou pronta para tirar férias dele. Se o meu futuro inclui o novo residente ou não, isso é outro grande X. Mas talvez eu não precise saber disso agora. A gente nunca tem mesmo certeza do futuro até que ele mude de nome e vire presente. Mas os cachorros? Vão ficar para trás. Serão afastados e alienados até que eu descubra como lidar com tanta fofoca, tanta desaprovação, tanta intriga. Eles que remexam em suas feridas até decidirem apresentá-las ao Médico antes de as infeccionarem completamente. Se família é assim, acho que estou bem com a família adotada que tenho ao meu redor. Para que viajar milhares de quilômetros para ouvir todos os meus defeitos, ter minha vida exposta, minhas opiniões espalhadas pelas línguas mais afiadas, meus sonhos debochados e minhas intenções duvidadas por quem não me conhece? Para que ouvir gritos contra mim sobre situações de um passado que é só deles? Que não vem ao caso e não tem ligação com o assunto. Muito menos comigo. Para quê??? Enfim... Vou voltar para casa, que é onde há conforto, aceitação (ou não). Ou pelo menos tem o meu canto, onde eu posso me esconder, e alguns que parecem me amar sem muita condição nem pressão. E por favor, aqueles que pensam como os cachorros, me deixem em paz. Eu preciso de paz. Estou voltando para casa, graças a Deus...

PS: Àqueles que não entenderam nada, abstraiam, era só um desabafo. Àqueles que entenderam tudo, eu avisei que era um desabafo!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Cena 21 - Os donos do estacionamento

O ser humano compra um carro. Para isso ele junta 5 meses de salário, compromete outros 72, vende o celular, o relógio de marca, empenha o anel de formatura, a aliança da mãe e, se fosse verdade que silêncio vale ouro, empenharia o dele também. Além disso, paga imposto para aquisição do carro, para uso dele, para uso das vias públicas, para colocar o som, para ter uma lixeirinha, um porta CDs e água para limpar o pára-brisa. Aí sai satisfeito com o veículo, abastece, para pagar mais impostos, e vai ao mercado pagar outro imposto, porque os que ele paga já cansaram.

Chegando lá, depara-se com essa criatura legendária, o ser mal-vestido e completamente estranho que aparece na frente do veículo como se tivesse brotado do chão no exato momento em que se chega ao local de destino. O ser estranho começa então a fazer gestos que lembram os daqueles uniformizados que guiam os aviões na pista de pouso. Usam de artifícios altamente tecnológicos para chamar a atenção, como assobios e tapinhas na traseira do carro. E o sujeito? Rende-se à sabedoria daquele que parece conhecer o local como a palma da mão. Afinal, está diante do Dono do Estacionamento, conhecido entre os íntimos como Sr. Flanelinha.

O D.E. guia o individuo até o local que julga apropriado, cumprimenta e pergunta: “Pode dar uma olhada, chefe?”. Já vou avisando a vocês, motoristas desavisados, que isso é menos uma pergunta do que um anúncio. O ponto de interrogação é simbólico, assim como o atual poder da rainha da Inglaterra. O consentimento do dono (ou da rainha) é necessário, mas não existe a possibilidade de recusa. O parlamento, ou, neste caso, o Conselho Nacional de Flanelinhas, já tomou a decisão. E o uso da palavra “chefe” é ilustrativo, até irônico. Chefe é quem manda, aqui você manda, mas só se estiver disposto a colaborar com esta pequena transação. A troca? Seu trocado pelo serviço altamente especializado de vigia. Ou, seu trocado para que o D.E. volte para o subsolo até sua volta e deixe o seu carro em paz.

O sujeito tranca o carro e vai fazer suas compras. Antes de voltar, passa na banca e troca dinheiro, para a eventualidade de o carro não ter sido roubado, afinal, ninguém quer dar uma nota de dois reais inteira ao Sr. Flanelinha. O D.E. ressurge do terreno subterrâneo, observa seu destino e corre para chegar às proximidades do carro enquanto grita: “Tudo certinho, senhor!”. O indivíduo tenta ser rápido, mas lá está o D.E., guiando-o enquanto sai de uma vaga paralela em que estacionou de ré. Ele pára perto da janela, o sujeito, constrangido, vasculha os bolsos mas percebe que deu todo seu trocado ao ajudante do supermercado que o acompanhou com as compras. Temeroso, nem abre o vidro, apenas acena para o Sr. Flanelinha com uma expressão de “Por favor, tenha misericórdia, não foi culpa minha, meus bolsos estão vazios”, que lembra bastante a expressão de quem vomita no coleguinha depois de brincar de atirei o pau no gato.

Ele dá partida no carro sentindo o peso da transgressão que acabou de cometer. Afinal, falhou no pagamento do dono do estacionamento público. E ninguém entende por que faz meses que o Franklin só faz compras no mercado que fica a sete quadras de sua casa.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Cena 20 - Um pouco mais sobre graça

Voltei. Ou não, sabe-se o que é preciso para voltar a uma forma de vida depois de um período longo de hibernação. Porque eu sumi, mas vocês permaneceram, continuaram interagindo, conjecturando, desabafando, polemizando, retrucando, ajudando, evoluindo (ou não). E eu? Vou tentar pegar o bonde andando enquanto espio os outros vagões para ver o que têm aprendido.

A TX outro dia resolveu me dar o benefício da dúvida e perguntou por que eu havia parado de escrever. Ótima pergunta, só pedindo ajuda aos universitários. Minha última postagem foi a saída da Embaixada. Talvez, diminuindo minha interação com o mundo, eu tenha esquecido o que dizer... Talvez, enquanto vivo situações importantes e delicadas, tenha resolvido evitar a exposição... Ou talvez, só talvez, os sentimentos e pensamentos que me inundam estejam mais leves, não façam tanta questão de sair.

Não sei que momento é este, não estava acostumada a ele. O momento em que se começa a receber as bênçãos que vem pedindo há muito. Momento em que o maior medo é dar um passo em falso e estragar tudo, seja por negligência ou por não saber demonstrar toda a gratidão. Mudança à vista, futuro tomando forma. O tempo, o trabalho e a espera fazendo sentido de novo. Planos deliciosos. Visão de uma vida que vale a pena.

O que fazer quando se perde a intensidade da súplica? Quando acabam as desculpas que inventamos para nós mesmos? Nossas frustrações e faltas costumam ser usadas para justificar tantas atitudes e omissões: “Não tenho buscado a Deus como deveria, mas é porque estou triste”. “Bebo/fico/danço pagode no casamento do Ismael (brincadeirinha) porque algo me falta, tenho uma carência que não parece ser suprida”. Grosseria porque não há motivo para ser muito legal com ninguém, afinal, o mundo não é muito legal com você.

Aqui, onde estou, as desculpas acabaram. Muitas mudanças à frente, mas todas trazendo paz. Qualquer falha é preguiça descarada, egoísmo ou escolha errada, sem maquiagem. E tem sido interessante me conhecer assim. Um ser com mais falhas do que eu imaginava, com menos decisão do que parecia, com menos paixão e disposição do que eu enxergava. Mas também alguém que agora sabe que nem por um segundo merece coisa alguma do Pai, e que mesmo nunca tendo merecido, recebe zelo e amor.

Tenho tentado mudar, me ajustar ao bom momento e aprender a orar para agradecer com a mesma intensidade de quando orava para pedir. Talvez eu não seja uma pessoa melhor – não da forma como previa que seria quando chegasse aqui –, mas talvez eu tenha aprendido a me deitar na misericórdia de Deus enquanto esqueço as desculpas e encaro a responsabilidade de tentar. Quero ser melhor para não ter de voltar para a sala de aula.

Se continuo pedindo? Sempre. Dependo de Deus para conseguir dormir ou acordar. E nada do que tenho ou tive pode ser sustentando sem a constante manutenção e orientação dEle. Mas peço com a certeza de que não mereço nada, não mereço o amor, o cuidado, as bênçãos, a amizade, a paciência, o perdão, a esperança da eternidade... mas que preciso de tudo isso, e o meu Deus é tão maravilhosamente bom que criou a misericórdia e a graça para guiarem suas próprias ações.

Digo essas palavras não para que haja acomodação, nunca vamos merecer, mas temos o dever de batalhar em direção ao ideal. Mas para que haja paz e confiança em saber que teremos todo o suporte necessário, e muito mais, pelo caminho. E que isso não tem nada a ver com o que somos ou como estamos...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Cena 19 - Um final de capítulo

Meus caros leitores – caríssimos, nem sei se poderei continuar pagando-os depois de como este dia pretende terminar –, para a aula de hoje, convido-os a dar um mergulho na minha vida. Hoje, dia 25 de abril de 2008, sexta-feira, diz-se ser meu último dia de trabalho nesta Embaixada e, apesar de já ter havido outras despedidas seguidas por retornos – em diferentes cargos e contratos –, hoje parece definitivo… decisivo. Perseverei na estação enquanto havia a promessa do bonde chegar, mas ele finalmente passou e não parou para mim. O jeito é me aventurar na próxima estação. Então, acompanhem-me enquanto eu me despeço deste que foi o local onde eu aprendi a ser profissional quando só se quer ser humano, a trabalhar com requintes e continuar amando a simplicidade, a conviver, a funcionar sob pressão, a conversar enquanto digitava, a fazer oito coisas ao mesmo tempo, a crescer por necessidade e que você pode ser muito mais do que é se se deixar completar pelo conhecimento alheio.

Acordei atrasada por causa do ensaio de ontem. 7:40. Todo o tempo entre lavar o rosto, escovar os dentes e finalmente sair do quarto levou 18 minutos. Durante toda a semana meu pai veio de carona comigo, o que causava alguns atrasos (ainda não tinha conseguido encontrar um novo horário de saída eficiente), mas hoje não. Hoje eu estou sozinha, como era de costume. Vim ouvindo as músicas de sempre, no meu carro de sempre, pelo meu caminho de sempre. De sempre até hoje.

Estacionei na vaga de sempre, uma que fica sob as câmeras e sob a sombra. Só porque não é vaga paralela, ninguém nunca estaciona lá. O ser humano e suas peculiaridades. Entrei, Porta 1, bom dia para os guardas, Porta 2, os jardineiros se esconderam… e eu achando que ia poder levar o papo matinal regular, quando o Seu Valdemar me pergunta se eu fui à igreja ontem e se orei muito.

A Porta 4 e a 5 estão quebradas, tiveram de ser abertas e fechadas manualmente. Gosto de pensar que é a forma delas de protestar contra minha saída. Greve das portas automáticas. Elevador e prédio, tudo igual. Hoje é Casual Friday, as pessoas estão vestidas como se fossem sair daqui direto para as férias. Eu vou!

Esbarrei com a Juju, que é um dos maiores presentes que eu consegui na Embaixada. Na verdade, quem esbarra nela esbarra primeiro no Marcelinho, que tá crescendo tanto que a mamãe não consegue mais abraçar ninguém, só ele. Enche a tia de orgulho quando vem conversar comigo nessa linguagem feita de chutes e giros.

Resolvi sentar na minha própria cadeira, diante do meu próprio computador e ao lado da Ju. Nos últimos dias tenho sentado à mesa da minha chefe, que está de férias, para arrumar aqueles arquivos dos quais temos fugido há meses. Presente de partida. Mas hoje eu escolhi ficar aqui mesmo, com a minha própria vista para onde o sol bate atrás da pirâmide a que chamamos de Pavilhão, a fonte e algumas árvores com flores.

O movimento continua normal, não há nada que diga que hoje termina uma temporada do meu seriado. Retiro o que eu disse. A Ju me entregou uma carta e pediu que não a lesse até que fosse embora. Melhor não ler mesmo, vamos evitar a cena, estou sem fundo musical. Meu outro chefe também veio aqui, quer conversar comigo antes do fim da manhã. Droga. Cena na certa.

Todos saem. A Ju vai fazer uma ecografia, ou seja, tirar mais uma fotografia precipitada do meu sobrinho postiço. Minha lista de coisas a fazer: Limpar e-mails; limpar mesa; limpar pasta pessoal; limpar cookies do PC. E ops, lá vêm elas, as lágrimas. Copo de água, rápido! Água para desfazer o nó.

Acabei de receber um e-mail dizendo que as portas lá debaixo (4 e 5) não estão funcionando. Jura?!? Telefonema. Informações que, por enquanto, só eu posso dar. Mais uma prova de que o dia não terminou.

Reunião com o chefe. Como eu estou? Bem. Melhor. Fiquei triste, mas estou lidando com a situação. Olhos surpreendentemente cheios de lágrimas enquanto ele me diz que não há absolutamente nada de negativo em trabalhar comigo. Não sabe como está meu sentimento em relação aos meus colegas e ele. Espera que eu possa desvincular a instituição das pessoas. As lágrimas me convenceram. Hora da avaliação:

Gerenciamento de si mesmo, outros e recursos: Effective
Entrega de resultados: Strong
Foco no cliente: Effective/Pode melhorar
Resolução de problemas: Strong
Trabalho com os outros: Effective
Comunicação: Effective
Aprendizado e Desenvolvimento: Strong

Resultado: Strong Performance – Cumpriu com as principais exigências da função de forma satisfatória e excedeu a expectativa em algumas áreas.

Tradução: Não há nada de errado com o meu trabalho, eu só não sei fazer as pessoas que tomam as decisões verem isso.

Agradecimentos. Eu disse que saio agradecida por terem acreditado em mim e no meu potencial quando eu não tinha experiência alguma. É sincero.

Ao fim da reunião, já era hora do almoço, e me levaram a um lugar chamado Wrap and Roll, no Lago. Antes, porém, dei uma passada no banheiro e me encontrei com a nova copeira, que achou fácil lembrar de mim porque a filha dela se chama Natália e por algum motivo ela acha que o nome se parece com o meu. “Meu último dia, Dilma”; “Por isso você está assim quietinha. Não se preocupe, vai aparecer coisa melhor. Você é uma pessoa boa, nem precisei trabalhar muito tempo aqui para perceber. E pessoas boas sempre conseguem muito”. Quanta diferença não fazem certas palavras, quando vindas da pessoa certa.

Comemos bem (obviamente o prato da pessoa ao lado era mais gostoso do que o meu) e, para melhorar meu dia, tomei um smoothie de oreo!!! Acho que todos os meus problemas terminaram ali. Queria transcrever as conversas que preencheram o almoço, mas isso exigiria muitas páginas e causaria excesso de risadas. Melhor manter a solenidade do momento.

Ganhei presentes! Uma caixinha azul com um laço menos azul e um cordão prateado. Nada mais constrangedor do que alguém te dar um presente, você abrir e não ter certeza do que é. Era um anel lindo, com um pingente que me desejava Amor, Paz e Alegria. São boas coisas para se ter. Três cartões, um da minha chefe e dois comunitários. Muitos desejos de boa sorte e felicidades. Também boas coisas para se ter.

Mensagem mais engraçada (porém pertinente): Parece que estamos sempre nos despedindo de você. Espero que não seja a última vez. (tradução livre)

Mensagem mais inesperada: With many thanks and every success and happiness in the future (essa tinha de ser em inglês mesmo, porque veio da embaixatriz!!

Mensagens mais importantes: Despedidas são sempre difíceis – e neste caso, mais ainda. Desejo tudo de bom para você, e espero poder trabalhar de novo com você no futuro. Um beijo. Chefe 1.

Muito obrigada por toda a ajuda e apoio, mas acima de tudo, obrigada por sua amizade e sorriso sempre aberto. Mantenha sua fé e confiança em Deus, pois quando Ele nos fecha uma porta, muitas se abrirão para melhor. Chefe 2.

Difícil e triste escrever neste cartão. Mas você sabe muito bem que os seus amigos a amam e só desejam seu sucesso. Beijo grande. Recepcionista.

Obrigado pela simpatia constante e por ser a pessoa que melhor consegue espantar meu sono na hora das revisões técnicas. Te desejo muito sucesso e que a gente se encontre de novo, e com freqüência. Estagiário.

Mensagem da Dilma: Oi. Lhe conheço à pouco tempo mais tenha certeza que vou lembra sempre que eu chamar a minha filha. Jesus te ama e eu também.

Mais palavras doces ao vivo, falando de saudades.

Na volta, ganhei a outra parte do presente, um par de brincos que eu mesma pude escolher. Já tenho o que vender caso não consiga um emprego. Brincaderinha. Esses ficam. Voltei para a minha mesa e, depois de fazer minhas últimas traduções usando aquele teclado, passei à estranha tarefa de me eliminar dali. Fiz uma limpeza na minha mesa, na minha pasta pessoal e caixa de e-mail, não antes, é claro, de enviar tudo o que era importante para mim mesma. Papéis jogados fora, restos de biscoito dos lanchinhos nossos de cada dia, livros e dicionários devolvidos a seus devidos lugares. Amanhã nem vai parecer que eu estive aqui. Vida estranha.

Claro, deixei alguns dos trabalhos mais chatos para a minha substituta. Vingança.

Ganhei uma carta de recomendação muito bonita. Isso e sorvete, porque a Ju ainda não perdeu o costume de me levar guloseimas. Terminei o expediente bem tarde, o sol nem batia mais na pirâmide. Alguns colegas vieram me ver e abraçar, até que a última passou e as lágrimas finalmente me alcançaram. Desci, abracei a Ju de novo e me despedi do prédio já vazio.

Porta 5, Porta 4 (que já estavam funcionando de novo. Tudo vem e vai rápido aqui). Porta 3 e o ar livre. E quase três anos finalmente se fechando atrás de mim. A fonte, o clube, as árvores, a Porta X (esqueci de contar essa, fica entre a 2 e a 3. Digamos que é a Porta 2,5). Tudo parecia vazio e normal. E afinal, nem consegui me despedir dos jardineiros.

Entre a Porta 2 e a 1, me lembrei do meu crachá. Tirei-o como quem se despe de uma identidade. Entreguei para um dos guardas, que perguntou se era para guardar no cofre até segunda-feira. Não, pode devolver. Dessa vez nem precisa guardar a foto. Entrei ali nessa manhã como Temp 1 da Embaixada Britânica em Brasília, e saí só como Talita.

Foi bom.


Um grande PS:

A carta da Ju (que vai me matar por postar, porque ela lê este blog):

“Um dia estou quieta no meu canto e chega uma estagiária com cara de moleca, sem pretensões e que ligava quando a coisa apertava para perguntar como se dobrava uma carta. Depois foi chamada para trabalhar na recepção... e para substituir o tradutor... E mais uma vez para ajudar a XXX... E assim foi ficando, fazendo amizades, mostrando que, apesar da pouca idade e da cara de menina, é muito rsponsável e já sabe agir como uma pessoa adulta (tá, exagerei aqui... ).

Depois desse tempo todo só tenho uma coisa a dizer: essa menina conquistou não só a mim, mas todos ao seu redor. Com seu sorriso fácil e seu jeito atencioso, ela está sempre pronta para ajudar, para pegar no pesado ou até mesmo para fazer companhia em uma noite de semana e matar uma refeição para três de comida japonesa.

Talita, este é o nome dela – ou Tita para os íntimos como eu. Ela não sabe, mas também me ensinou muita coisa. Foi ela quem me deu e ainda me dá dicas de tradução quando preciso, que me ajudou a usar o database que mais parece um programa de sete cabeças. Foi a Tita também quem me mostrou o mundo da legendagem e me deu a chance de até ajudá-la com um ou dois filmes.

Outra coisa que a Tita não sabe é que hoje posso dizer que é a minha melhor amiga e que por um bom tempo tem sido a única.

Agora não vou vê-la todos os dias. Ela vai seguir seu caminho. Quem sabe um caminho longe daqui... Mas torço que tudo dê certo para essa garota. Ela merece tudo de bom que Deus tem lhe reservado.

Quem sabe daqui alguns dias não receberemos a noticia de que ela finalmente conseguiu aquele emprego na Google que tanto queria? Ou que abriu sua empresa de tradução e está ganhando muito dinheiro? Bem, só esperando para ver. Estarei aqui de dedos e membros cruzados para que tudo dê certo. E que, daqui a alguns anos, lembremos do que aconteceu e digamos que foi melhor assim.”

terça-feira, 22 de abril de 2008

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Cena 17 - By Nilton Bonder

Abrindo uma exceção para postar um texto de autoria alheia, mas que considero de qualidade pouco vista e conteúdo absolutamente interessante...

OS DOMINGOS PRECISAM DE FERIADOS

Nilton Bonder

A prática espiritual deste milênio será viver as pausas.

Toda sexta-feira à noite começa o shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino, no sétimo dia da Criação.

Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.

Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.

Hoje, o tempo de 'pausa' é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações 'para não nos ocuparmos'. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.

O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições. Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo.

Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme.

As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.

Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado...

Nossos namorados querem 'ficar', trocando o 'ser' pelo 'estar'. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?

Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos...

Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.

O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair - literalmente, ficar desatento.

É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é 'o que vamos fazer hoje?' - já marcada pela ansiedade.

E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo.

Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande 'radical livre' que envelhece nossa alegria - o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.

Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.

Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Interludio

Se neste momento eu pudesse pedir uma coisa ao universo (porque Deus pesa nossos pedidos com sabedoria), pediria pra ele parar exatamente agora, só por um pouquinho, para eu me esconder do mundo e chorar até que esse nó no meu estômago se desfaça com a correnteza. Só para passar esse nervosismo e apertar o botão de reset. Aqui, neste momento, quando ainda não sei se fui aprovada, não sei se vou ou se fico, se vou mudar de cenário ou só de papel... Aqui onde qualquer coisa ainda pode acontecer, e onde reina essa sensação de que "não saber" consegue se a pior e a melhor coisa do mundo. Mas eu ficaria aqui por um pouco de tempo, sem contato visual com quem tem a resposta e sem pensar no que fazer diante de cada resultado. Só curtindo o momento enquanto o universo fica estático e me deixa viver a minha saudável agonia.

terça-feira, 25 de março de 2008

Cena 16 - Poeminha

Então eu ganhei uma passagem para fora da lista de blogs favoritos dos meus vizinhos. Aparentemente, passar um certo tempo longe das teclas leva os leitores reais a uma revolta descrente e desesperada. Outro dia vi tomates na minha janela. Além disso, tenho recebido mensagens muito suspeitas no meu Orkut e biscoitos da sorte. Peço que todos respirem fundo e admitam que foi apenas uma questão de horas entre uma postagem e outra... 1154, mas horas.

Tenho várias coisas a compartilhar com vocês, mas todas meio melosas e profundas, nada que seja compatível com o meu atual estado de espírito (que hoje está mais para comédia da Warner do que cinema europeu). Então, caros amigos, para acalmar os ânimos e, com sorte, roubar alguns sorrisos, eis algumas rimas despretensiosas (observem o abuso da licença poética):

Era uma vez, em um lugar pouco distante
Ao alcance do vento e do olhar hesitante
Uma nova vila se formava sem aviso
Sem propósito ou endereço preciso
Fez de velhos conhecidos, novos amigos
E de olhos estranhos, fiéis ouvidos.
Quem antes compartilhava bancos
Agora, compartilha devaneios francos
E quem antes abria os braços em um abraço
Agora abre o coração em desabafo.
E foi assim que foi sendo formada
Essa velha vizinhança, em meio ao nada
Encontrou antiga e pequena moradora
Que se adaptou e virou leitora
Saiu do casulo sem ser cutucada
E vem enchendo de cores nossa morada
Mudou-se alguém com nome de turma
Que logo mostrou que lugar se arruma
Alguém que na vida exige alguns côvados
Mas aqui, acolhe desabafos trôpegos
Veio também o polêmico crente
Que põe a funcionar a roda da mente
E se é na esquerda que se concentra
É porque é por seu coração que se orienta
Junta-se a isso vizinhos ausentes
Cujas participações são parênteses
Em meio a uma longa e contínua narrativa
Mas sempre aguardadas com expectativa
Por último, a vizinhança conheceu as gêmeas
Que vieram cheias de novas palavras e temas
E se eu falar delas será um tanto suspeito
Pois trazem em si do meu sangue e jeito
Se faltou alguém, pense que era de se esperar
Em vilas estão sempre a sair e a entrar
E esta aqui, virou uma grande sessão terapêutica
Ideológica, desabafológica e hermenêutica
Tem mais loucos do que uma reunião em Paris
Entre personagens de Poe e Machado de Assis
E se você esperava um final de embalagem
Para este poema que começou como homenagem
Sinto decepcionar, ele é só paliativo
Para a Márcia não brigar mais comigo.

Beijos!!!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Cena 15 - Ausência de mim; Presença de vocês.

Acabei de dar uma volta por este estranho bairro de castelos, fortes, borboletas e poços de despejo que nós criamos. Senti saudades, a vida é mais doce quando temos a quem pedir um punhado de açúcar. Saudades e um pouco de inveja. Vocês continuam derramando em palavras seus medos, conquistas e pensamentos, e agora sabendo que são lidos e acompanhados. Ainda têm a sobriedade para perceber que expor medos faz dos seus amigos cúmplices voluntários que vão cuidar para que eles não se concretizem, compartilhar conquistas transforma os que querem seu bem em sócios e contar decisões os torna líderes de torcida da sua vida. E isso tudo importa. Eu, por outro lado, tenho um mês inteiro no calendário que não posso explicar.

Estou ausente de mim, se é que isso é possível. As mãos que agora falam me pertencem, mas a versão que tem ocupado meus espaços é alguém cansada, irritadiça, agressiva, que não vê sentido em escrever, que não ri com facilidade, que contrai o rosto a ponto de doer ao fim de um dia, que come e gasta mais do que precisa, que esqueceu como se pede perdão e chora ao se olhar no espelho. Me perdi em meio à confusão. São situações a resolver, coisas que ficaram por fazer, carro quebrado, trabalho, saúde, conversas evitadas, orações que não foram feitas, momentos ignorados, relacionamentos que precisam ser cuidados e pessoas que merecem mais. Tudo entulhado em um compartimento fechado para evitar que incomode a rotina. É como se você deixasse toda a bagunça em seu quarto acumular e fosse dormir na sala porque não consegue encontrar a cama. E está cansado demais para tentar organizar. Quem sabe amanhã, quando chegar do trabalho. Mas a bagunça aumenta, e com o passar do tempo você mal se lembra de como o seu quarto era e onde ficava cada coisa.

Passei o feriado tentando reunir coragem para desbravar o meu próprio caos interno e encontrar o Ponto de Descanso em torno do qual gira qualquer quarto ou vida. Geralmente as mudanças começam por lá. Mas onde foi que se enfiou a porta?

Não há problemas. Não estou triste. Não estou com raiva. Ninguém me mordeu. Meu cachorro continua vivo. Até a bezerra parece ter driblado a morte. Deus continua me amando. O Brasil continua o mesmo. Os amigos continuam os mesmos. Nenhuma novela mexicana nova nem nenhum estudo revelando que chocolate dá câncer. Mesmo assim, há essa vontade de me esconder até passar. Acho que passei tanto tempo evitando abrir certas portas e derramar certas lágrimas, que agora elas são como lembranças do que não vivi. O problema é que aparentemente, no nosso passado só ficam as coisas que vivemos, o resto, o que trancamos e pensamos escapar, fica preso em uma espécie de eterno presente.

Aquilo que você sente e cala porque de alguma forma ofende o que você é – raiva infundada, mágoa injustificável, trauma, saudade do que não se deve – simplesmente irá armar acampamento no seu calcanhar. E é por aí que o caos começa a pôr em prática os planos de dominar seu mundo. Nem tudo é visto a olho nu, às vezes é preciso um estetoscópio para entender por que dói, e aceitar que mesmo que pareça ridículo, se o fato de alguém vestir verde com marrom te atingir, ignorar ou jogar o cobertor em cima não ajuda. É preciso tratar e resolver, antes que você acabe brigando com uma árvore.

E foi isso que eu fiz. Arranjei briga com uma floresta inteira e depois me escondi porque não podia me explicar. Mas eu não contava com a astúcia do cuidado de vizinhos/amigos/irmãos. Vocês me fizeram experimentar ser o sujeito atendido do pedido popular “ame-me quando eu menos merecer...”, e isso mudou tudo.

Vizinhas, a disposição de vocês para se deslocar da aula ou do fim do mundo a que a Márcia chama de residência (é longe!) para vir em meu socorro, por mais inexistente que o meu problema pudesse parecer, mudou meu dia, minha semana, meu mês. Vocês me surpreenderam, e de repente eu me vi com seis mãos para me levantar. É a parte que eu vou me lembrar.

Meninos, o cuidado eterno que vocês têm comigo, isso sim é inexplicável. O restaurante e cinema particulares que me criaram me fizeram lembrar de por que há certas amizades das quais não se pode abrir mão. Sua companhia fez o meu caos interno parecer pequeno e indefeso. Ele passa, vocês não.

E se houver pouco o que aproveitar nesta tão tardia Cena 15 (já que é um artigo da famosa Umbigolândia), espero que ao menos vocês possam perceber a medida da minha gratidão a Deus por tê-los na minha vida. Ainda não encontrei a tal porta do quarto, mas graças a vocês fui forçada a entrar pela janela. É um bom começo...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Cena 14 - Uma Idéia Para o Ano Novo e Meu Blog Agora é Bilingüe!

So I heard there's a New Year arriving on the next plane. That means the old one has to run off and catch the first train to the past. How much baggage it has to take depends on how much of its stuff the New Year likes and thus decides to keep. In my opinion, if your past year is dragging 5 pieces of heavy luggage, 2 backpacks, 3 suitcases, a handbag and a laptop case to the station, you'll have an exciting 2008, completely redecorated.

On the other had, I hope we all, little by little, learn to live our lives in a way that when the New Year arrives, it can take a look around and appreciate the view. Maybe next year you'll acquire more friends, have even more fun, more trust and faith, add beautiful memories to your personal belongings, discover new music, watch great movies, bring home more dancing and have long and deep conversations about nothing. That's all light baggage.

And then, maybe, just maybe, I (and you, though the collection may differ a little) will be able to leave behind the extra weight, the time and joy-consuming conflicts, painful heartbreaks, huge cell phone bills, pointless fears, embarrassing selfishness and some seriously useless heated discussions.

This way, when the new New Year arrives, it will welcome it all, and the then old year will be able to run freely to catch the other train, the one only those carrying just a piece of hand luggage are allowed to take - the one they call Saudade. It has the same destination as the conventional one - the past. But I assure you, it's a much better ride.