terça-feira, 2 de outubro de 2007

Cena 9, Take x

Faz tempo que a lua se despediu do pedaço de céu que nos é revelado por aqui. Ainda assim, o sol parece que só se acendeu pela metade, deixando a sensação nostálgica de um dia nublado inundar o quarto onde dorme nossa personagem. O despertador já toca pela quinta vez, em uma demonstração obviamente desumana de perseverança. Nada parece suficientemente importante para tirar nossa personagem do conforto do mundo do sono. Ali onde nada dói, nada permanece, nada incapacita, e onde sempre que algo desagradável acontece, é esquecido com a mesma velocidade com que se recobra a consciência. Não fosse o tal bom senso, o despertador seria silenciado de forma mais, digamos, definitiva.

Mas o tal do bom senso tem bons argumentos e vence a batalha no grito. Nossa personagem se levanta, olha ao redor, enxerga a cama que abandonou com preguiça, e segue para o banheiro. Nada de banho, se ao menos o bom senso tivesse vencido ainda no segundo toque do despertador... Procedimentos emergenciais de higienização completados, chegou a vez de explorar o guarda-roupa. Nenhuma novidade, as mesmas roupas que ontem pareciam uma terra de possibilidades, hoje parecem se limitar a uma ou duas que só alcançam adjetivos de adequação. Muito tempo perdido, mas era inevitável. O relógio já acusa o atraso, enquanto nossa ainda desconhecida improvisa uma maquiagem que perdoe a roupa. Brincos, sapatos, nada parece realmente combinar, mas o constante movimento do mundo também não parece combinar com a desejo de paralisação em sua mente, então paciência.

Café da manhã é supérfluo, um luxo que se perde na visão do relógio. Chaves, bolsa, carro. O trânsito é uma das provas de como o mundo é injusto. Todas essas pessoas dirigindo seus carros e suas vidas sem respeitar o fato de que hoje todas deviam desaparecer. Aparentemente ninguém recebeu a circular com a notícia de que hoje é dia da nossa personagem poder se livrar da camisa de força da sanidade. Nossa amiga precisa trabalhar, mas é melhor fazer uma parada antes, pelo bem de todo ser animado ou inanimado que cruzar seu caminho e mente neste dia de chuva. Ela estaciona em um prédio alto e aparentemente lotado, onde ocorrem todo tipo de transações em todos os segundos do dia. Lá, corre para as escadas, sem arriscar o elevador sempre ocupado. Três ou quatro lances acima, vê ao longe a porta que busca, uma sem placas suntuosas nem cores chamativas. São só mais alguns passos e o caminho pelo corredor encarpetado já contradiz a confusão do universo exterior.

A porta. A maçaneta trabalhada é alcançada com um suspiro. Lá dentro só se ouve o barulho de vozes individuais envoltas em silêncio compreensivo. Nossa paciente abre a porta e vê os rostos familiares de sua vizinha (em mais endereços do que o normal), um petista universitário, uma noiva e uma missionária disfarçada de jornalista, todos com razões óbvias para estarem tão cedo na sessão de terapia. Olha para dentro, cumprimenta, toma fôlego, e, finalmente, olhando para o fundo da sala: AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHH!

Pronto. Era só isso. Publicar postagem. Graças a Deus pela terapia em grupo. Agora nossa personagem pode ir trabalhar em paz.

10 comentários:

Marcia disse...

Oi vizinha!
Passei rapidinho por aqui...
Depois vou ter que voltar de novo, pq nao entendi nada.....rsrsrs!!! ( Acho que o meu sono está maior do que eu imaginava)
Não vou abandonar vcs, posso demorar, mas nao falho!
bjs!

Unknown disse...

"Convidei a comadre Sebastiana
Pra dançar e xaxar na Paraíba
Ela veio com uma dança diferente
E pulava que só uma guariba
E gritava A E I O U Ipsilone
E gritava A E I O U Ipsilone.

Já cansado no meio da brincadeira
E dançando fora do compasso
Segurei Sebastiana pelo braço
E gritei não faça sujeira
O xaxado esquentou na gafieira
Sebastiana não deu mais fracasso
Mas gritava A E I O U Ipsilone
E gritava A E I O U Ipsilone..."

Música non-sense pra alegrar seu dia...

beijos, ricardo

DanDan disse...

Oi Vizinha!!!
Acho que tb tô com sono!!! Vou ter que voltar algumas vezes mais pra tentar entender!!!! KKKKKKKKKKKK
Vamos comer brigadeiro hoje?!?!?!?!

Beijos!

Lê Cami disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lê Cami disse...

(tive de reescrever. A confusão mental deixou impressos um montão de erros!)Mesmo não querendo dizer nada, disse tudo. Excelente descrição do meu dia hoje. Pena que eu não possa olhar pro fundo da sala e gritar, literalmente.
Dei meu "berro" lá em casa tb...passa lá pra uma dose de brigadeiros e borboletear....

Unknown disse...

Tá na hora de dar uma renovada por aqui né? rs Uma sugestão seria sua relação com remédios (inclua de forma sutil aqueleS de ontem... rs)

beijos, ricardo

Larissa Sales disse...

ESSA É MINHA IRMÃ!
EU SOU IRMÃ DELA!
ELA ME PEGOU NO COLO! SIM! já estive no colo dela! rsrss
QUE MASSA Tiiiiiiita! =D
mt bom! adorei! principalmente a parte em que todos devem respeitar o fato de que deveriam evaporar do mundo! hauhauhauhau amei!
beijos! gravei o link! =P
vc é linda!
amo vc!
exemplo de cérebro! meu referencial prediléto! já te disse isso antes né?! =D

Lê Cami disse...

A-D-O-R-E-I o "conserto" do último parágrafo! heheheehehe Mas o texto continua sendo o meu dia a dia. Ainda hei de dar o grito, vc vai ver. Te aviso qnd isso acontecer!

Beijo!

Marcia disse...

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!
Agora sim, faz sentido....ou não faz...hehehehehehe!!!!!

Unknown disse...

A edição do último parágrafo deixou um pouco mais confusa a minha caixola... rsrs Não entendi que tava fazendo lá!

beijos, ricardo