terça-feira, 16 de outubro de 2007

Cena 10 - Sobre vícios

Dias atrás passei por um momento metalinguístico que só hoje veio resultar em texto. Resolvi alimentar meu vício, também conhecido como seriado médico com doutores que fazem valer a pena ficar doente, e o assunto do dia era, voilà: vícios. De acordo com o Titaurélio, vício é qualquer coisa que entra em sua vida alcançando posição de hábito, e, mais à frente, desbanca alguém com escritório maior e conquista o cargo de obsessão. Pode ser uma droga, um remédio, uma comida, uma atividade, ou até mesmo um relacionamento. O que liga todos e os coloca no mesmo saco é a busca pela repetição de uma sensação. Quem de nós não tem algo que, se fosse possível, gostaríamos que ocupasse quase todo o nosso tempo, que fizesse parte de quase tudo na nossa vida? Esse quase só tem o tamanho suficiente para evitar o enfado.

O problema dos vícios é que eles já vêm com a obrigação prática de destruir o bom senso. Além disso, suas doses invariavelmente deixam de ser suficientes, e esse querer sempre mais se torna um perigo fatal para a capacidade decisória do ser humano. Isso é bastante claro nos vícios mais óbvios, como substancias ilícitas ou mesmo lícitas (mas que, de acordo com Paulo, não convêm). Entretanto, já não é tão simples de enxergar naqueles mais sutis, como trabalho, estudo, leitura, malhação, ou um relacionamento.

Relacionamentos. Pessoas também viciam. Em minha brevíssima história de vida encontrei várias que me acrescentaram muito, mas também algumas que me levaram mais do que deveriam. Quantas pessoas não ficam presas a uma amizade ou namoro que aos poucos desgastam profundamente sua auto-estima e amor próprio por causa da dependência. Aquilo que mais queremos começa a machucar, e nenhuma das opções que se apresentam parece boa o suficiente. Não é fácil querer se livrar de um vício, ele existe por um motivo. Mas uma hora a constante busca por satisfação e a agonia da abstinência se tornam mais do que se pode suportar.

Em relacionamentos, a abstinência também se apresenta e bate continência na ausência, seja ela a falta do outro ou a falta de reciprocidade. E é aqui que a questão fica mais nublada. O fato de você não receber na proporção em que se doa machuca, mas perder voluntariamente até o que se tem pode parecer insuportável. O que tenho vivido, ouvido e visto ao meu redor, é que, longe da teoria, abrir mão daquilo que faz mal às vezes dói mais ainda. E decidir entre uma dor e outra exige uma força quase desumana.

Como podem perceber, ainda não cheguei a conclusões brilhantes sobre o assunto que proponho. Na verdade, em mim só restam dúvidas, e é por isso que trago o problema para a mesa.
- Só para constar, se o seu vício envolve alguma substancia ilícita (ou a lícita que não convém), não precisa perguntar, ele não tem lado nem vagamente positivo, só adormece os seus neurônios o suficiente para você não perceber isso. Portanto, livre-se dele o quanto antes. Coloque-o no próximo trem para o passado e saia correndo. Os outros estão abertos a discussão -

E enquanto isso vou voltar para os meus vícios quase inofensivos. Tem mais um episódio de Grey's Anatomy para ser assistido por aí e uma barra de chocolate com o meu nome em cima. E se quiserem compartilhar, participem da minha recém-iniciada reunião de VCAA - Viciados em Coisas Aleatórias Anônimos. Até lá!

PS: Não adianta retrucar o "brevíssima", o blog é meu.

4 comentários:

Lê Cami disse...

Onde que eu me inscrevo para participar do VCAA? hehe

Como já conversamos, o vício dos relacionamentos é que nos faz permitir que passemos por tantas situações insalubres. Não vejo nenhum bem em algo que se torne vício. Quero dizer, se chegou a este nível é porque já passou da boa medida. E como diz minha cunhada, "tudo que é bom dura o tempo suficiente".

Tópico um da reunião: como regular seu relógio para que o tempo desprendido com qq coisa ou pessoa não ultrapasse seu limite?

Beijo.

Unknown disse...

Outro tópico, mas mais polêmico pra reunião: a quem entregaremos o Troféu Banana Caramelada? kkkkkkkkkkkk (Piada não tão interna, explico pessoalemente! rs)

beijos, ricardo

Marcia disse...

Será que vocês poderiam cooperar com a minha luta para manter a sanidade mental?????
Por favor, postem alguma coisa para que eu leia nos cinco minutos de intervalo entre as 400 páginas de cada livro.....PLEASE!!!!!

Marcia disse...

Acho que não tem ninguém mais VCAA do que eu!!!
Se começar a enumerar, vou ocupar toda a pagina de comentários, vizinha! Melhor deixar isso a cargo do meu terapeuta mesmo!!!rsrsrsrsrsrsrsrs!
Estava lendo aqui e pensando... estamos com um tema recorrente em nossos blogs, talvez fosse o caso mesmo de uma reunião, de uma assembléia extraordinária, de uma sessão terapêutica real...pensem nisso!
Por outro lado, insisto na questao de que precisamos experimentar a dor até as últimas consequências, é um preço a se pagar, mas acredito que em última instância, signifique libertação e, consequentemente, liberdade. E estou dizendo isso de "cadeira", hein!!!!