sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Cena 4, take 13 - A Viagem parte 2

Finalmente... O problema é que nesse meio tempo, entre a viagem e o parênteses, esqueci 80% daquela semana. Mas vamos lá. Em caso de faltar a lembrança, a imaginação está sempre pronta para tomar sua cadeira (e ela é abusada, do tipo que ainda cruza os pés sobre a mesa).

Depois de alguns dias na Penha Circular (ou, como gostamos carinhosamente de chamar, na Faixa de Gaza), pedimos para ser transferidos para o Leblon (também conhecido como Suíça). Deixamos para trás o Patrick, tristes pela perda da possibilidade de vivenciar as experiências a que ele nos expunha. Não sei como sobrevivemos sem a insistência dele em nos dar comida na boca, com as próprias mãos, as quais ele cuidadosamente passava por todos os cantos da casa, da rua, do chão, do banheiro e dele mesmo. Desenvolvemos boas habilidades de escape e fuga frenética.

Na Zona Sul, fomos acolhidos por pessoas absolutamente maravilhosas, cujos únicos defeitos evidentes eram a capacidade de falar por períodos mais longos do que o ouvido humano é capaz de ouvir, e a mórbida tendência de continuar atirando na língua portuguesa depois que a coitada já estava praticamente enterrada. A casa era menor e mais simples, mas também aconchegante. O Rio de Janeiro estava na janela, mas sem os famosos 40º. Estava mais para Rio 16º. Ou 11, a noite.

Conhecemos, convivemos, nos envolvemos nas vidas das pessoas que nos acolheram. Distribuímos abraços grátis pelas noites de Copacabana e descobrimos que tem muita gente carente neste mundo. Os que não eram carentes, achavam que nós éramos, então davam o abraço assim mesmo. Claro que, assim como o Frank, há sempre aquelas pessoas que não receberam amor suficiente dos pais e ficam azedas, o que resulta em uma criança de 12 anos gritando: " Vai dar abraço grátis na sua maezinha!". Outros comentários foram: "Eu sou judeu!" - acho que isso significa que judeus não se abraçam -; "Não dou abraço em marmanjo, só nela ali!"; e propostas: "Você distribui beijos grátis também?". Saíamos de lá com nossos níveis de serotonina prestes a causar uma overdose. Depois ainda íamos comer alguma variação da Bomba do Guará.

No sábado, nossa noite de folga, resolvemos ir ao teatro. Passamos algumas dezenas de minutos na parada, tentando pegar um ônibus para a Gávea, mas aparentemente os motoristas confundiam o nosso aceno com um adeus. Pelo menos uns 4 passaram direto. Resolvemos então que isso era um sinal para irmos para o Barra Shopping. Pegamos um ônibus superlotado, onde a protuberância traseira do Ricardo e das outras pessoas se bloqueavam mutuamente. Só eu pude sentar (umas das 27.904 vantagens de ser menina). Depois de cerca de 30 minutos de viagem, resolvi perguntar ao estranho sentado ao meu lado quanto tempo levaria para chegarmos à Barra. "Uma hora e meia", foi a resposta. Segundo meus cálculos, nesse caso chegaríamos bem a tempo da apresentação de domingo.

Quis saber então como saltar na Gávea. Nao sei se ele estava tentando se livrar de nós porque estávamos rindo enquanto ele tentava dormir, mas ele disse: "Desçam na próxima parada". Descemos. Na entrada da Rocinha. A verdade é que tivemos de pegar outro ônibus e atravessar um túnel para chegarmos ao Shopping da Gávea. Sem mágoas daquela criatura de Deus.

Havia 4 peças em cartaz no local. 4 Monólogos, na verdade. O primeiro que tentamos já havia começado. O segundo estava esgotado. Passamos direto pelo terceiro, e estacionamos no quarto. Nenhuma máquina de VISA a vista, alguém tem de correr para pegar dinheiro. Com isso nós descobrimos que cariocas (sem ofensa) são tão bons em dar direções como os nossos vizinhos (sem maiores especificações). Rodamos o shopping 3 vezes, depois de recebermos informações de que o caixa eletrônico ficava no primeiro andar, no segundo, atrás do banheiro, do lado de fora do prédio, debaixo do solo, não existia e "Banco do Brasil???". Era na frente da farmácia. Dinheiro na mão, a lei de Murphy não estava satisfeita, e além de já havermos perdido todos os lugares decentes, a versão feminina do Frank que nos atendeu não aceitou nossas carteirinhas de estudante, então a quantia não era suficiente. Acabamos indo ver o terceiro monólogo, aquele que ironicamente havíamos ignorado, e ele valeu cada centavo. A descrição fica para um post a parte.

No domingo acordamos antes das seis. As malas já estavam prontas, o único desafio era fazer o Bruno tomar um banho em menos tempo do que eu levaria para fazer uma escova e depois uma permanente no cabelo. Desafio frustrado. Saímos atrasados e o pastor resolveu que nós devíamos ir ate o aeroporto a pé. Isso ou nenhuma das 24 primeiras paradas por que passamos não serviam. Talvez os 30 quilos nas nossas costas tenham feito o caminho parecer mais longo. De qualquer forma, quando chegamos à parada certa, descobrimos que, como era domingo, o ônibus dormia até mais tarde ou tinha de ir a missa ou coisa parecida. O fato é que tivemos de pegar um táxi, que passou pela porta da casa de onde havíamos saído 40 minutos antes. Mas, de novo, sem mágoas.

O avião causou certo desconforto a todos, dessa vez. Poucos dias antes, havia acontecido aquele acidente em Congonhas. Havia um silêncio desconcertante pelo ar. Até que levantou-se o comentário (entre nós três, mas não revelo quem fui) de que as pessoas do vôo de Congonhas ainda tinham dado tempo de se aliviar com o pouso. Cruel, eu sei, não foi um comentário cômico, realmente só uma observação, que fez com que o Ricardo ficasse verde até a hora que o avião parou de taxiar. Aí eles dois, já bem calmos, me fizeram cócegas até eu gritar pela aeromoça.

O resto vocês já sabem.

Lembrando que essa foi uma versão apócrifa da viagem. Deixei de fora tudo que fosse realmente útil como o Evangelismo e outros fatos de valor moral ou espiritual. Divirtam-se!

2 comentários:

Bruno Oliveira disse...

Eu não demorei no banho!!!!

Isso é herege.

O restante está próximo da verdade.


:p

Unknown disse...

Cara, nossa viagem foi bem divertida. Mas relembrá-la pelo seu relato faz pensar que foi muito, mas muito divertida mesmo! rs

beijos, ricardo