quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Cena 6, Take -1

Resolvi fazer algo diferente desta vez. Estava limpando meus arquivos (essa é a parte diferente) e encontrei um velho texto que escrevi em um momento de inspiração demagógica. Resolvi postá-lo aqui, não por falta de idéias atuais, pois, não se enganem, minha cabeça é um buraco negro absolutamente lotado de pensamentos, mas porque o tema do texto é expecialmente pertinente ao que eu tento viver hoje. E porque, talvez, a proposta seja útil a vocês. Espero que gostem, mantendo em mente, é claro, que foi escrito há muito muito tempo, quando eu não era considerada gente, apenas adolescente.

Aí vai:

"Um dia desses recebi por e-mail uma mensagem que dizia "Agradeço às pessoas que me atiraram pedras, porque foi com elas que construí um castelo". Fiquei cogitando sobre o sentido geral da frase, que seria o de tirar proveito das más situações da vida. Logo tentei pensar no que eu estava fazendo com as pedras que me foram atiradas. Eu construí alguma coisa, sei que não as ignorei. Mas não foi isso.

Algumas pessoas constroem castelos, outras constroem escadas. Eu construí um forte. Empilhei pedras ao invés de lançá-las fora ou dar-lhes alguma forma. E o forte tornou-se maior que eu, permitia-me apenas alguma visão por cima quando eu me punha na ponta dos pés, da qual eu me esquecia logo ao descer e encarar a parede outra vez.

Esse muro foi construído com palavras duras e lembranças enrijecidas, e rebocado com uma mistura de mágoas, lágrimas e insanidade. Pedra e cimento da mente. Não, do coração. O forte parece eficiente, ele protege contra os intrusos, velhos ou novos. Mas quem não sabe que as melhores e as piores coisas às vezes caminham na mesma estrada? Podem até não chegar juntas, mas você as encontra nas mesmas paradas. A velha história da rosas e seus espinhos e blá blá blá.

Dessa forma, ao tentar impedir que pessoas, situações e sentimentos nos alcancem, não só estamos nos iludindo, pois cedo ou tarde algo vai ultrapassar a proteção do forte, como também estamos nos privando de novas surpresas, novas e belas emoções. Dessas que vale a pena viver mesmo que esteja implícito um certo risco. O amor, em todas as suas formas, a confiança, a convivência, são algumas das melhores coisas que uma pessoa pode alcançar na vida. Muitas vezes, mesmo que elas não os tragam consigo, são seguidos sorrateiramente por desilusões, tristezas e julgamentos. Estes, entretanto, são apenas visitantes nômades. Eles se vão.

Admiro a pessoa que escreveu aquela frase. Mas para nós que ainda não víamos utilidade para as pedras, eis aí então uma fórmula. Se sentir que estão te atirando pedras, não construa, jamais, um forte. Ele não é proteção, é apenas isolamento. E construí-lo significa a possibilidade de perder do melhor da vida. Ao contrário, dedique-se a construir um castelo, um bem grande e bonito. Um João, um Augusto. Você mesmo. Eu mesma. Se as pedras são metáforas, que o castelo seja poesia. Que seja feito de fé e rebocado com perdão. E quando ele estiver pronto, convide o amor para ficar, agora que você tem espaço. E convide também todos aqueles que te jogaram as pedras, para que eles entendam que mais decisiva do que a matéria-prima, é a possibilidade e a habilidade de moldá-la."

5 comentários:

Anônimo disse...

Vc disse: "... pois cedo ou tarde algo vai ultrapassar a proteção do forte, ...". Às vezes não é algo que precisa ultrapassar esta proteção, mas vc mesma destruí-la e com as pedras construir um castelo com portas bem grandes para que a felicidade possa entrar sem obstáculos. Só assim a poesia será bela.

Hummm... Acho que estou filosofando... Vou dormir...

Bjos

Eu!

Será que sabe quem sou? Se souber mande um sinal!!! Só não manda sinal de fumaça, viu?!

Unknown disse...

Puxa, que texto bonito e inspirativo. Quase chorei no finalzinho... rs

Eu conheci uma música que parafraseava esta frase que dizia: "das pedras que atiraram em mim edifiquei um altar pra oferecer louvor". Isto é bonito, meio ralo, mas totalmente válido. Vou tentar colocar isto em prática.

Bom, como disse o Sr. Anônimo, dê um sinal de fumaça. Entre em: http://ricardoemprosa.blogspot.com

beijos, ricardo

Lê Cami disse...

Primeira vez aqui. Adorei, simplesmente. Juro que não leio textos compridos. Nem mesmo as matérias que eu escrevo eu releio. Leio o lead e pronto. Mas como não continuar a te ler? Que perfeição nas palavras (mesmo quando uma teen), que cadenciamento, que construção!!!
Li não apenas este mas, pelo menos uns três dos seus posts. Merece minha atenção. Sou sua fã! hehe
Quando eu crescer quero ser que nem você, DDA!
Beijos, Lê. :)

Marcia disse...

É...com esse post constatamos que não tem jeito mesmo, vc nasceu para isso....a sua capacidade de traduzir as idéias e os sentimentos para as palavras faz com que seu leitor consiga sentir a densidade, a textura, o peso de cada tijolo do forte!
bj de uma eximia construtora de fortes, mas que tenta buscar aprender e viver a ciência de construir castelos!

Anônimo disse...

bom comeco